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terça-feira, junho 24, 2008

Joaquim Santos (1936-2008)

Hoje é dia de S. João.
Esta madrugada, com a manhaninha pela frente, aspergida pelo orvalho e desejosa de Sol, faleceu o músico Joaquim Santos. Quem o conheceu e privou com ele sofre este momento como perda irreparável.
Era padre, vivia entre Cabeceiras e Roma, dedicado à criação musical e à compreensão do mundo. Tolerante, aberto à plurividência de Deus e dos sons da vida, sucumbiu à morte com uma corrente inesgotável de trabalho em cima da mesa.
Faleceu um amigo, um compositor, um génio!
A sua nota biográfica começava assim: «Joaquim Gonçalves dos Santos, nasceu em Riodouro, Cabeceiras de Basto, em 1936. É filho de uma família simples do campo, onde a música teve sempre um papel preponderante e que, certamente o tem influenciado ao longo da sua vida de compositor. Seu pai e seu avô paterno tocavam guitarra, flauta transversal e harmónica.»
Esta clareza de genealogia era um pergaminho, na casa da casinha que a família mantinha desde há três séculos e onde uma corrente de água lhe acompanhava contínuamente os passos. De lá vê-se o Marão e ouvem-se os poetas da Montanha.
Hoje é dia de S. João e o meu Grupo vai cantar duas peças dele na procissão. Paz à sua alma!


sábado, junho 14, 2008

Vontade de jogar!

Um esclarecimento: a imagem nada tem a ver com o que vou dizer, mas ajuda a perceber o estado geral de viciação argumentativa em que ando ensarilhado.

Anda para aí um apelo ao boicote do novo modelo de gestão, sobre o qual já me pronunciei aqui e cuja lógica argumentativa se pode resumir assim: não presta e depressa se vai revelar como fiasco perturbador.

Mas, dado que a Plataforma Sindical (em que o meu sindicato se integra) não assumiu qualquer posição sobre estratégias de actuação, e dado que o meu Sindicato não respondeu em tempo útil ao meu pedido de esclarecimento, e dado que não me conformo com o facto de o futuro gestor da minha escola poder ser quem é e com quem está, e dado que não vejo qualquer inconveniente em continuar num Sistema estando contra ele - se assim não fosse já teria de ter desistido há muito de ganhar a vida como ganho - e dado que para além de contrariar o ME é preciso contrariar muito «penso e adesivo» e muito «líder histórico de massas», decidi organizar uma lista de professores candidata ao Conselho Geral. Nas escolas há princípios a defender que estão para lá das questões do Sistema Educativo, para lá das equipas ministeriais e dos políticos de serviço, para lá dos blogues e dos seus escribas, para lá das amizades de ocasião, para lá dos copos, para lá do sexo. O jogo tem de continuar!

terça-feira, junho 10, 2008

Outra vez o S. João!

(Imagem do S. João da Ponte - Fotografia de Fernando Cardoso)

S. João por Braga fora

S. João por Braga fora

Está sempre a ser falado

Pelo encanto de ser festa e romaria

Em que junta o profano e o sagrado.

Se p’ra uns o S. João é só folia

P’ra nós outros é mistério anunciado:

Para um mundo de harmonia

E um futuro promissor,

S. João nos anuncia

O Messias salvador!


S. João por Braga fora

Muda as ruas da cidade,

No respeito aos valores da tradição,

Mas por gosto de mostrar a novidade!

Neste acto ritual da procissão

Faz convite à reflexão desta verdade:

Para um mundo de harmonia

E um futuro promissor,

S. João nos anuncia

O Messias salvador!

(Letra e música de JM

Braga, 2008)

Outra vez os Prolegómenos de Bento da Cruz

Foi em Montalegre, dia 9:Para quem pede e o que pede o narrador destas crónicas quando decide começá-las com esse apelo da erótica popular: ateima gato, que ela dá-to? Se apela a que ateimemos com ele, para que fim seja?

Para o fim de lhe acrescentarmos valor e ajuda à pobreza e à paixão, à paixão pela sua terra e à pobreza de estar só ou de se sentir pouco apoiado no seu jornal, Correio do Planalto, quinzenário regionalista de informação e defesa de causas próprias no desenvolvimento local, em primeiro lugar.


Num mundo de globalização, o autor quer recentrar-nos no local como ponto de partida, num mundo de fartura e de esbanjamento, o autor quer recentrar-nos na pobreza como origem de razão e num mundo de infidelidades, o autor quer recentrar-nos na paixão como estado de espírito.


Se isto nos parece pouco como programa de militância cívica, já será muito como programa de militância literária: o desafio quinzenal de entusiasmar leitores para actos de conivência em torno da terra e do amor à palavra obrigou-o ao exercício de arranjar motivos, casos, incidentes críticos, pormenores, palavras, comentários, passeios, vivências, pessoas, memórias, mil e um artifícios para o artifício de construção de crónicas, marcas do tempo sobre o tempo; ou construção de prolegómenos, disposições ou orientações propedêuticas sobre o sentido da vida e sobre o dissenso ou consenso sociais.


Como quem precisa de respirar ar livre para não morrer abafado, como quem precisa de combater os moinhos da exclusão e do obscurantismo, como quem precisa de se picar a si próprio para se sentir vivo, como quem precisa de distender as pernas para combater os excessos de posição, como quem precisa de alongar no tempo da escrita a esperança prática da finitude dos anos de vida, assim procedeu o autor para narrar, para descrever, para dialogar, para reflectir.


Diz o autor que é um cronista de um paraíso perdido, de uma terra bíblica, onde a condição de lavrador preso à rabiça do arado, descalço sobre o pó da terra, entregue às agruras do céu e do tempo, mergulhado num primitivismo de mistérios e ansioso de espiritualismo inconfessado, define a sua condição de sujeito crítico, ingénuo, problematizador, insatisfeito, vigilante. O cronista é-o com a sabedoria da idade e da experiência acumulada, é-o na lucidez dos seus limites, de passada pelos montes, de visão pelos horizontes, mas também de alcance da pena pelos areópagos dos poderes.


«Não me lixem a terra» – nesta marca da oralidade contemporânea mantêm-se os registos da escrita, tanto o da impotência pelos excessos de mal fazer, como o da satisfação pelas boas práticas de cidadania, mas mantém-se também um tom de ironia e de riso, um gargalhar de sarcasmo e de azedume, uma refinada denúncia de atropelos.