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sexta-feira, maio 30, 2008

Salto – Apelos do Torrão Natal

Livro de Maria da Conceição Pacheco, edição de autor, Braga, 2008

Com Fotografias de Miguel Louro, também responsável pela composição e design

Lançamento: dia 31 de Maio, às 15.30 na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga.

Esta colectânea de escritos de Maria da Conceição Martins Pacheco, que só agora surgiu devido a condicionalismos vários, é um projecto acalentado pela autora desde há muito e foi possibilitado agora graças à sua determinação e à colaboração de familiares e amigos.

O livro reúne os textos publicados em jornais e revistas, mas também alguns inéditos que entretanto a autora foi escrevendo, sempre com a finalidade de deixar aos seus conterrâneos e demais leitores um manancial de saberes e curiosidade sobre Salto e suas gentes.

Este livro mostra bem a sua maneira de ser e de estar amorosamente enraizada na sua aldeia, numa perspectiva saudosa (sem saudosismo), projectada na modernidade, ou seja, neste desejo de que o futuro havia de sempre para melhor.

Alguns textos, a maioria, são descrições de usos e costumes, modos de ser e de falar das gentes aldeãs; são textos com um claro pendor etnográfico, passados pelos crivos da vivência e do testemunho presencial. Outros textos são narrativos, recolhem ora histórias da tradição local, ora histórias de criação pessoal. Alguns são textos de reflexão e de interpretação de factos, pessoas e situações.

Da sua leitura, sobressaem claros alguns apelos ao envolvimento dos leitores:

Em primeiro lugar, o apelo à preservação das memórias de gentes, lugares e «coisas» que determinaram a civilização ou a educação social das populações. A linguagem, os usos e costumes, os modos de organização familiar e de sustentação das Casas de lavoura, os bens do património familiar, as relações entre pessoas e terras e animais, as marcas do tempo e do clima – são factores que a escrita transformou em interpretações marcadas pela afectividade e pela nostalgia para as fixar num imaginário de referências solidárias, comunitárias, integradoras e preventivas da qualidade de vida e das perspectivas de futuro.

Em segundo lugar, o apelo ao desenvolvimento sustentado das terras e da paisagem, conservando marcas de urbanidade e de humanização dos lugares, num esforço de preservação e transmissão de gostos, sabores, relações sociais e festivas, modos de falar e de fazer.

Em terceiro lugar, o apelo à reinterpretação imaginária dos códigos e dos sinais simbólicos, sejam religiosos ou profanos, que vêm e vão com a roda da fortuna e da história, mas que asseguram a coesão social e a identidade individual.

Trata-se de um livro que é também o registo dos trabalhos e das preocupações de uma professora ao longo dos anos, sempre empenhada na defesa e preservação dos seus, mas sempre consciente das mudanças peregrinas que o tempo vai impondo às pessoas e às suas formas e modelos de organização, sobretudo quando as submete aos dilemas da proximidade e da distância e as obriga a optar por outras terras, lugares ou pontos de vista, dilacerando-as com a saudade – este labirinto de sermos portugueses.

segunda-feira, maio 26, 2008

Idas e vindas

1. Voltou a carga de cavalaria: desta vez para bater no ceguinho da fusão de ciclos, o 1º e 0 2º. Tudo com a velha argumentação:

os coitadinhos,
os desgraçados,
passam por ciclos,
traumatizados,
perdem os pais,
perdem a casa,
sofrem demais,
tudo os arrasa.

2. De novo as provas de aferição: a de português, com a novidade de leitura de vários textos, mas acessível, na linha de provas anteriores e no mesmo estilo de perguntar e testar. Este ano é audível a argumentação dos alunos: as provas contam para a avaliação dos professores. Foi eficaz a pedagogia do ME. Falta fazer a leitura dos resultados. Afinal o que é que uma prova destas permite avaliar? Este ano há uma novidade na classificação: em algumas questões regista-se um número (o 1) agregado à classificação obtida no índice, para comprovar que a escrita do aluno apresenta falhas de vária ordem: ortográficas, de formatção e apresentação, de legibilidade, etc. Mas esse número só dá mesmo para dizer que: há problemas de linguagem na linguagem escrita dos alunos. Vamos a ver para que vai servir tão douto engenho!

3. O dilema: como lutar contra um modelo de gestão, seja ele qual for, quando não se gosta do estilo de liderança dos prováveis gestores candidatos? Quando um sujeito não está à altura dos desafios, que sistema o pode levar a ver-se ao espelho?

segunda-feira, maio 12, 2008

De novo a furiosa autonomia

(Esta imagem fui buscá-la ao «site»: criticanarede.com, ao artigo de Rui Cunha sobre o problema do ensino e do sucesso escolar. A leitura dos artigos deste «site» requer uma inscrição, mas vale bem a pena saber onde se pode gastar bem a espórtula)

1. Pois de novo, sem que haja muito de novidade, que já parece velha a teoria que inspira o pretenso novo modelo de gestão que corre em trânsito de implementação, como corre em trânsito de contestação. Anda no ar uma falta de orientação ou de tomada de posição: a de saber se se deve optar pela indiferença, pela contestação aberta ou pela «entrada» no sistema, esta última com essa seráfica ideia de que dentro se faz a corrosão. Vamos lá a ver: há escolas em que este ano lectivo vigorou uma Comissão Executiva Instaladora que agora (Maio e Junho) deveria cessar funções para dar lugar a novo Conselho Executivo eleito para três anos. Há escolas em que chegou ao fim o mandato do Conselho Executivo e agora se deveria proceder a eleições para um novo. Há escolas que estão em exercício de legalidade democrática em mandato vigente. Se o novo modelo de gestão é para implementar desde agora, não deveriam todos os conselhos executivos ou comissões instaladoras readquirir legitimidade democrática? É que ninguém elegeu ninguém para estar um ano a «implementar o novo modelo de gestão»! Este tempo está propício à experimentação e à provação de «directores», mas o povo deveria ser consultado e deveria votar.

2. Entretanto circulam nos «media» as intervenções do ME sobre o insucesso, com a teoria da inutilidade e do prejuízo dos chumbos e com a teoria, na área da matemática, do isolamento docente como factor de crise nas aprendizagens. E os alunos que aprendem bem e gostam de aprender não são tidos como exemplo para nada? É tempo de ver que o ME faz recurso teórico da mais grosseira interpretação marxista da escola: quer-nos fazer crer que o sucesso escolar está a revelar-se fruto de um neo-darwinismo social, vai daí, indicia que os mais fortes e mais preparados (com essa teoria automática que os postula como mais ricos e mais dominantes) se estão a safar, e que os mais fracos e menos preparados (com essa teoria automática que os postula como mais pobres e mais dominados) estão a ser vítimas de chumbos e de falta de apoios e de falta de programas e de falta de escola. Falta então concluir que os professores estão do lado dos dominadores e que o ME está do lado dos dominados.

3. Alguém me disse que este regresso «ao livro vermelho» era a coqueluche teórica dos gestores de topo, das grandes empresas do Estado e dos grandes grupos económicos e até de Governos!