Livro de Maria da Conceição Pacheco, edição de autor, Braga, 2008
Com Fotografias de Miguel Louro, também responsável pela composição e design
Esta colectânea de escritos de Maria da Conceição Martins Pacheco, que só agora surgiu devido a condicionalismos vários, é um projecto acalentado pela autora desde há muito e foi possibilitado agora graças à sua determinação e à colaboração de familiares e amigos.
O livro reúne os textos publicados em jornais e revistas, mas também alguns inéditos que entretanto a autora foi escrevendo, sempre com a finalidade de deixar aos seus conterrâneos e demais leitores um manancial de saberes e curiosidade sobre Salto e suas gentes.
Este livro mostra bem a sua maneira de ser e de estar amorosamente enraizada na sua aldeia, numa perspectiva saudosa (sem saudosismo), projectada na modernidade, ou seja, neste desejo de que o futuro havia de sempre para melhor.
Alguns textos, a maioria, são descrições de usos e costumes, modos de ser e de falar das gentes aldeãs; são textos com um claro pendor etnográfico, passados pelos crivos da vivência e do testemunho presencial. Outros textos são narrativos, recolhem ora histórias da tradição local, ora histórias de criação pessoal. Alguns são textos de reflexão e de interpretação de factos, pessoas e situações.
Da sua leitura, sobressaem claros alguns apelos ao envolvimento dos leitores:
Em primeiro lugar, o apelo à preservação das memórias de gentes, lugares e «coisas» que determinaram a civilização ou a educação social das populações. A linguagem, os usos e costumes, os modos de organização familiar e de sustentação das Casas de lavoura, os bens do património familiar, as relações entre pessoas e terras e animais, as marcas do tempo e do clima – são factores que a escrita transformou em interpretações marcadas pela afectividade e pela nostalgia para as fixar num imaginário de referências solidárias, comunitárias, integradoras e preventivas da qualidade de vida e das perspectivas de futuro.
Em segundo lugar, o apelo ao desenvolvimento sustentado das terras e da paisagem, conservando marcas de urbanidade e de humanização dos lugares, num esforço de preservação e transmissão de gostos, sabores, relações sociais e festivas, modos de falar e de fazer.
Em terceiro lugar, o apelo à reinterpretação imaginária dos códigos e dos sinais simbólicos, sejam religiosos ou profanos, que vêm e vão com a roda da fortuna e da história, mas que asseguram a coesão social e a identidade individual.