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quinta-feira, abril 03, 2008

E um beijinho?

Inevitavelmente terei de falar do que se fala e do que toda a gente tem estado a falar, este toda a gente quer dizer toda a comunicação social, ou toda a classe parlamentar, ou toda a gente que se senta num café e cai inevitavelmente no assunto do dia, no caso da escola, na história da indisciplina, no caso do filme, no tema da autoridade. A escola, por boas e más razões tem estado na berlinda e oxalá continue, para se confirmar aquele princípio de que ser falado é estar vivo e mexer, ser falado é estar na crista da onda e estar na crista da onda é ser visto e ser visto é ser importante e ser importante é ser famoso e ser famoso é… nunca mais acabaria até chegar à imortalidade do panteão nacional, melhor, do panteão mundial.

Meu pai tem uma teoria sobre isto da crista da informação, que é a teoria do mal, que se pode explicar nestes termos: o bem e o mal estão aí e fazem história, mas o mal faz mais histórias do que o bem pela simples razão que as histórias do mal têm mais sal e pimenta porque são transgressoras, desvirtuadoras, violadoras dos caminhos do bem; as histórias do mal são histórias de desvios, de anormalidades, de indisciplina, de violência, de morte, enfim, de pecado puro e duro, que pecado também o são os veniais e os de intenção virtual; o mal está aí e faz história e como as pessoas gostam de histórias, as pessoas precisam de que o mal lhes seja servido à mesa.

Conta-se aquela história de ter havido um presidente da república, ou rei, ou príncipe, que, andando pelo país ou pelo reino, viu as pessoas a protestar e viu um polícia a cumprir o seu dever de as manter afastadas do presidente, do rei ou do principie, ou pelo menos dos lugares por onde essa figura passaria, mas que foi mandado afastar-se do cumprimento da sua missão para o povo protestar e se indisciplinar contra a ordem vigente, mantendo-se desde essa data o direito a cada um poder indignar-se e manifestar-se, isto é, a indisciplinar-se contra a ordem. Dizem outras histórias que a ordem é uma personagem que as mais das vezes dá para o mal e faz história. Dizem outras histórias que a indisciplina é uma reacção contra a ordem estabelecida e que portanto também tem mal que lhe baste para estar na berra. Seria bom e desejável que o mundo parasse de cada vez que alguém se indigna contra a ordem estabelecida, se corrigisse o mal e a boa vida, serena e pacífica, continuasse na normalidade. Mas as pessoas, ou seja, nós, somos feitos desta fibra que tem mais genes para o mal que para o bem e estamos sempre a incumprir, a indisciplinar.

Destes genes naturais de propensão para o mal fizeram alguns teóricos as famosas teorias da tomada do poder pelas armas, consagrando histórias de insurreição armada, de guerrilha, de boicote, de massacre. Até a famosa teoria da morte por amor, seja amor ao próximo, seja amor a Deus, seja amor ao Profeta, pode ser para aqui trazida para demonstração de tudo quanto se esteve a dizer. Dizem, depois, muitos, que a indisciplina acaba quando há regras claras e universais, que as há no trânsito e todos prevaricam, que as há nos negócios e todos as violam, que as há nas escolas e todos as esquecem. Dizem, depois, outros, que o castigo da mão direita não deve ser conhecido da esquerda, mas com a vontade de transparência, com a TV, os vídeos e os filmes, hoje ninguém pode praticar esta teoria de uma mão não saber da outra, ainda que possa haver algumas ilhotas de segredo, tipo não revelar destinos de transferência ou prisões dos maus, a menos que haja gente graúda no assunto ou que haja pontinha de sexo no caso.

Não vi nem ouvi ninguém falar ainda em pedidos de desculpa, em perdão, em arrependimento e em coisas do género, que é outra conversa que fica sempre bem para acabar uma história: os alunos pediram perdão e deram um beijinho e um ramo de flores à professora. Mas estes finais não têm graça para as televisões e postos no You Tube podem gerar cansaço e fastio, ou, então, deixam os poderes sem pretextos para continuarem a promover o mal.

1 comentário:

A. Costa Gomes disse...

Meu caro amigo,
há bastante tempo que não ando por estes lados. Já tinha saudades dos teus comentários, sempre a propósito. Acho que deixei a escola no momento ideal a avaliar pela catadupa de acontecimentos neste ano lectivo 07/08. Quantas vezes entrei numa sala de aulas temendo o que poderia fazer o aluno A ou B e qual seria a minha reacção! Já tinha medo de mim próprio.
Estamos em autêntica ditadura como, hoje mesmo, li no DM a propósito da construção de uma barragem no rio Tua. Falamos uma linguagem de surdos ora pelo elevado número de decibéis ora pela incongruência discursiva.
Os nossos "maiores" (governantes) querem leccionar disciplinas e áreas curriculares que não estudaram nem aprenderam com a experiência de seus antepassados, a começar pelo respeito mais básico pelo "outro" e a terminar numa arrogância sem paralelo, até perante os poderes legitimamente constituidos. E o púlpito de que se servem não tem nada a ver com os minúsculos púlpitos das nossas igrejas: são os grandes meios de comunicação sempre ávidos de notícias, quanto mais escabrosas, melhor. E querem que os nossos alunos sejam bons "rapazinhos"? Que sejam obedientes, estudiosos, preparados para servir a sociedade em que, mais tarde, serão inseridos? UTOPIA. Utopia dos tais pensadores improvisados de que falas em crónicas anteriores, pensadores que até fazem escola, embora de pouca dura. E aqui está o nosso problema: é que nada dura meia dúzia de anos. E isto é "contra natura" do ser humano que, embore goste e procure a inovação, também gosta e procura a estabilidade social e emocional.
Os nossos políticos precisam de ler e meditar Augusto Cury.
Um abraço. Ah: rezo por vocês. Costa Gomes