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quarta-feira, abril 30, 2008

Proximidades e distâncias II

1. Dia 19 de Abril, em Fátima: Morte de Monsenhor Cónego Melo. Eu tinha-o como amigo, como relação privilegiada numa certa linha de dinâmica cultural, como referência nas relações humanas. Admirei-o e estou disponível para compreender as suas obras. Aqui está um homem, um padre e um cidadão sobre o qual precisamos de falar com provas nas mãos, com factos, com referências teóricas, com fundamentação crítica. Ele foi um desafio, vai continuar a sê-lo, estou certo.

2. O título dá jeito, permite a disparidade do escrito, mas são cada vez mais as proximidades que já estiveram a maiores distâncias. Sintomáticas: micro-distâncias em coisas que já foram muito próximas. Qualquer coisa se move, e eu também!

3. Protesto: no 1º período lectivo houve reuniões para a Assembleia de Escola Constituinte. Candidatei-me tendo organizado uma lista. Houve duas listas, a minha ganhou mais dois lugares no quorum. A Assembleia deveria ter reunido até 31 de Dezembro de 2007 para aprovar o RI. Não reuniu e só em 25 de Fevereiro deste ano foi homologada a composição da dita Assembleia pela DREN. A reunião da mesma para analisar e aprovar o RI foi a 23 de Abril, na qual fui eleito presidente e finda a qual deixei de o ser porque a mesma se dissolveu e nos próximos trinta dias serão marcadas eleições para o Conselho Geral, modelo futuro de órgão idêntico, com a «nobre» missão de reelaborar o RI e de «escolher» o Director, lá para Março de 2009. Tudo nos tempos certos? Não, tudo nos tempos da conveniência do poder central, tudo na lógica do apoucamento dos órgãos, tudo na linha do desprezo por actos eleitorais democráticos.

4. Ocupações e passatempos: apresentações do livro de Bento da Cruz: Prolegómenos, Crónicas de Barroso, Editora Âncora, 2007: dia 18 de Abril foi no Porto, na Casa dos Transmontanos; dia 16 de Maio será em Vila Real e dia 23 de Maio será em Boticas. Valeu e valerá pelas reflexões e pelas conversas.

5. Em matéria de escola: tudo se dilui nas rotinas. O tempo para leituras e investimentos dilui-se nos blogues, nos jornais; o pouco que sobra ainda não colheu lugares de alimento nem espaços públicos de confronto.

terça-feira, abril 15, 2008

Proximidades e distâncias

1. Inevitavelmente, o entendimento entre o ME e a Plataforma Sindical. Considero um passo em frente, não obstante ter achado pertinência em muitas interpretações que viram neste «acordo» uma vitória da Ministra ou uma derrota dos sindicatos. Interiorizei a ideia de que os sindicatos aumentaram a consciência crítica das situações, como aumentei a ideia de que as escolas não fizeram quanto deveriam para se ter obrigado o ME a perder a face, portanto fico pela teoria de que está um pássaro na mão.

2. Que as escolas deveriam ter feito mais, acho e acharei. Deveríamos ter aproveitado toda a autonomia apregoada e ter construído modelos de avaliação docente simples, directos e de rápido preenchimento, de modo a obrigar o ME a desmontá-los, a proibi-los mesmo ou, quem sabe, a tolerá-los e a utilizá-los. Que não haja ilusões: fui muitos anos orientador de estágios, avaliei e fui avaliado. Não prego moralidades, mas chega de estarmos sempre à espera.

3. Não fui porque não pude à manifestação de segunda-feira em Braga, tinha compromissos de trabalho com uma associação cultural. Mas já agora um reparo: este messianismo de Dias D e de jornadas até à vitória final, deixei-os nas memórias da militância revolucionária, cansativa, fundamentalista e xenófoba. Ponto final.

4. A Beatriz é este rosto da infância. Neta de elementos da Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé». Filha de amigos, a Beatriz é um símbolo desta realidade toda, pesada e leve, em que projectamos sonhos. De vez em quando sai connosco. Dá-nos um renovo.

4. «Serenata ao Fado» - mandei o artigo para a imprensa, mas aqui registo um apreço pela academia universitária, pelos guitarras bracarenses João Moura, Domingos Mateus, Manuel Borralho e Luís Cerqueira, ainda que dois deles não morem no burgo, mas eles todos aqui deixaram e deixam caminhos de som. O jaime Leite ainda mantém uma vitalidade de «boémio» cultural. Bem haja e bem hajam os que se comprometeram. Foi um momento de história da música que encheu o Teatro Circo. Eu gostei.

5. Faço uma aprendizagem de gaita-de-foles. O entusiasmo é de principiante, mas o Paulo, meu mestre galego, merece o respeito da dedicação.

6. Dia 12 de Abril toquei e dancei com o meu grupo na Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima. Toda a complexidade cultural desta iniciativa ou deste acto é sintoma e solução. Fosse o espaço interdito ou não, lá estivemos, com um trabalho que sabemos justificar e que nos dá gosto fazer, sem desejos de polémica e sem receios de entrar nela. Foi bonito. O convite foi de Monsenhor Cónego Melo. Os projectos são fios de contas, cerejas de cesto, nós de vozes, acertos de contas, saltos sem rede.

7. A arquitectura da nova Igreja de Fátima, as esculturas, os símbolos, os trajectos do olhar, são a polémica do interior, núcleos traumáticos da nossa história, complexos a resolver. Mas justificam a conversa, o estudo, o debate. Aquele Cristo de olhos esbugalhados, ou aquela imagem de Mãe na brancura do mármore, ou aquela linha de Cruz na ferrugem do ar livre, superam actos de frustração, são forças criadoras.

8. Ainda há tempo para muita coisa, amigos. A escola vale o sacrifício, não adianta sairmos por birra. Os alunos justificam-nos o cansaço, mesmo indisciplinados e rebeldes, mesmo diferentes para pior, mesmo até se melhores do que nós.

quinta-feira, abril 03, 2008

E um beijinho?

Inevitavelmente terei de falar do que se fala e do que toda a gente tem estado a falar, este toda a gente quer dizer toda a comunicação social, ou toda a classe parlamentar, ou toda a gente que se senta num café e cai inevitavelmente no assunto do dia, no caso da escola, na história da indisciplina, no caso do filme, no tema da autoridade. A escola, por boas e más razões tem estado na berlinda e oxalá continue, para se confirmar aquele princípio de que ser falado é estar vivo e mexer, ser falado é estar na crista da onda e estar na crista da onda é ser visto e ser visto é ser importante e ser importante é ser famoso e ser famoso é… nunca mais acabaria até chegar à imortalidade do panteão nacional, melhor, do panteão mundial.

Meu pai tem uma teoria sobre isto da crista da informação, que é a teoria do mal, que se pode explicar nestes termos: o bem e o mal estão aí e fazem história, mas o mal faz mais histórias do que o bem pela simples razão que as histórias do mal têm mais sal e pimenta porque são transgressoras, desvirtuadoras, violadoras dos caminhos do bem; as histórias do mal são histórias de desvios, de anormalidades, de indisciplina, de violência, de morte, enfim, de pecado puro e duro, que pecado também o são os veniais e os de intenção virtual; o mal está aí e faz história e como as pessoas gostam de histórias, as pessoas precisam de que o mal lhes seja servido à mesa.

Conta-se aquela história de ter havido um presidente da república, ou rei, ou príncipe, que, andando pelo país ou pelo reino, viu as pessoas a protestar e viu um polícia a cumprir o seu dever de as manter afastadas do presidente, do rei ou do principie, ou pelo menos dos lugares por onde essa figura passaria, mas que foi mandado afastar-se do cumprimento da sua missão para o povo protestar e se indisciplinar contra a ordem vigente, mantendo-se desde essa data o direito a cada um poder indignar-se e manifestar-se, isto é, a indisciplinar-se contra a ordem. Dizem outras histórias que a ordem é uma personagem que as mais das vezes dá para o mal e faz história. Dizem outras histórias que a indisciplina é uma reacção contra a ordem estabelecida e que portanto também tem mal que lhe baste para estar na berra. Seria bom e desejável que o mundo parasse de cada vez que alguém se indigna contra a ordem estabelecida, se corrigisse o mal e a boa vida, serena e pacífica, continuasse na normalidade. Mas as pessoas, ou seja, nós, somos feitos desta fibra que tem mais genes para o mal que para o bem e estamos sempre a incumprir, a indisciplinar.

Destes genes naturais de propensão para o mal fizeram alguns teóricos as famosas teorias da tomada do poder pelas armas, consagrando histórias de insurreição armada, de guerrilha, de boicote, de massacre. Até a famosa teoria da morte por amor, seja amor ao próximo, seja amor a Deus, seja amor ao Profeta, pode ser para aqui trazida para demonstração de tudo quanto se esteve a dizer. Dizem, depois, muitos, que a indisciplina acaba quando há regras claras e universais, que as há no trânsito e todos prevaricam, que as há nos negócios e todos as violam, que as há nas escolas e todos as esquecem. Dizem, depois, outros, que o castigo da mão direita não deve ser conhecido da esquerda, mas com a vontade de transparência, com a TV, os vídeos e os filmes, hoje ninguém pode praticar esta teoria de uma mão não saber da outra, ainda que possa haver algumas ilhotas de segredo, tipo não revelar destinos de transferência ou prisões dos maus, a menos que haja gente graúda no assunto ou que haja pontinha de sexo no caso.

Não vi nem ouvi ninguém falar ainda em pedidos de desculpa, em perdão, em arrependimento e em coisas do género, que é outra conversa que fica sempre bem para acabar uma história: os alunos pediram perdão e deram um beijinho e um ramo de flores à professora. Mas estes finais não têm graça para as televisões e postos no You Tube podem gerar cansaço e fastio, ou, então, deixam os poderes sem pretextos para continuarem a promover o mal.