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sábado, março 08, 2008

A marcha da indignação: uma corrente de esperança!

Hoje celebramos o Dia Internacional da Mulher e eu quero aqui lembrar-me quanto dependo dela e quanto lhe procuro dar de mim e do que sei, na certeza que mais recebo e nem sempre agradeço e de que mais cobro exigindo agradecimento, numa representação desmedida de papéis e de funções, dentro de um quadro de relacionamentos que tem vindo a ser equilibrado pela história, mas que ainda pende para um dos lados quando é submetido a formas de pressão ou a modismos de tendência, gerando reféns e vítimas, mais ela do que eu, ela mulher e eu homem, que esta divisão ainda a tenho por natural.

Hoje é também um dia em que os professores se juntam em Lisboa, capital do reino, para que «acudam aos mestres que os matam sem por quê», como li num sugestivo, pertinente e certeiro texto de meu colega António Mota, dando conta, nesta paráfrase recriativa de Fernão Lopes, das arbitrariedades legislativas do Ministério da Educação.

Hoje é um dia de combate por uma ideia de escola pública, com os professores em primeiro lugar como seus imprescindíveis e fundamentais intervenientes e com estes a desejarem que os outros parceiros se não arvorem em paladinos de causas fáceis e de resultados duvidosos.

Sou a favor da liberdade de ensino, mas gostava que os pais e os alunos optassem pela escola pública por saberem que ela não é a solução mais económica nem a mais fácil, mas que é a melhor e a mais eficaz. Digo isto desejando os mesmos valores para as escolas particulares.

Lançar para o ar essa argumentação de que a escola pública está falida, que é um modelo de ensino desactualizado e sem rumo ou sem préstimo para o futuro dos jovens e dos cidadãos de amanhã, que não lhes desperta o interesse e a animação, foi chão da crítica de vários intervenientes nos últimos e frequentes programas televissivos, quase sempre conduzidos facciosamente. De vez em quando sai da elite intelectual uma tirada destas e a gente fica a pensar, pois parecem baseadas no facto de hoje a juventude estar a demonstrar outras apetências de saberes e de habilitações que a escola não consegue sustentar. Pura ilusão esta, mas fica bem dizê-la para provocar um debate, só que não dá em nada. De vez em quando os formados e os gestores e os intelectuais e os dirigentes e os políticos esquecem-se de tudo quanto devem à escola e mandam para o ar estes apocalípticos dislates que nada resolvem. A escola existe para ensinar a pensar e a desenvolver potencialidades, o que significa que ela é na sua essência plural e não única ou de um sentido só.

Idêntica, mas sintomaticamente mais provocadora, muito na moda desse tique discursivo sobre a escola desactualizada, é essa representação de que hoje os jovens fazem três coisas ao mesmo tempo, vêem televisão, jogam playstation e ouvem Ipod, como se isso fosse a demonstração de capacidades e não de distracções, como se isso fosse a representação de genialidade e não da mais inteligente vitalidade da preguiça e do distendimento de meninges. Até se podem acrescentar outras tarefas que os jovens ainda conseguem realizar ao mesmo tempo que ouvem música, vêem televisão e jogam, como seja comer e falar e ir à casa de banho, que a simultaneidade é sempre uma questão de perspectiva, só que não é por isso que se deve tornar assunto escolar ou base para construção de currículos.

Estas bocas sobre a falência da escola são a fruta do tempo e dos debates, mas não passam de bagatelas sintomáticas sobre os distúrbios do nosso mundo. Eu sou dos que pensam que a escola não está a falhar e não é ela que tem de fazer tudo, ela cumpre o seu papel e a sua missão e só não faz melhor porque não deixam, não a querem avaliar com rigor e querem que ela se dilua em burocracia estatística e matérias de banalidade. A escola requer estudo e o estudo requer tempo e o tempo requer muito autocontrole de boca e de estômago: campeia a demagogia das metáforas e a simbologia das miragens, como esssas da devolução da escola às comunidades, da sua gestão em estilos empresariais, da inspiração eficaz de lideranças, das quotas de mérito e da ocupação intensiva dos horários.

Em Lisboa corre um rio de águas indignadas. Que se não perca!

4 comentários:

Anónimo disse...

O rio há-de ir ter ao mar.
Amanhã continua o luto e a luta, porque os professores sempre tiveram a arte de saber ensinar.Havemos de ter imaginação para isso,e a razão há-de ser o "comboio de corda" que a fará entreter.
Abraço

Anónimo disse...

Gracinda Castanheira:

E é tudo tão verdade! Mas a ti ou a pessoas como tu, ninguém chama, ninguém pergunta...seria uma voz demasiado incómoda, pelas verdades que encerra e por apontar muitas das culpas de quem não quer pensar nem parar para ver.
Mas havemos de conseguir!Não nos calaremos! Pena que entretanto fiquemos tão magoados e desgastados!Esta tristeza e este desânimo podiam virar alegria e irmos para a escola sem um profundo luto na alma!
Um abraço Zé.

TempoBreve disse...

Cro Zé Machado!

Foi bom ler este texto teu.
Estava um grupo em Lisboa. Algumas caras conhecidas. Atrevido, perguntei: - De que escola é que sois? A resposta veio em coro: Da Francisco Sanches. E então eu: -Ah! A escola do Zé Machado! Depois acrescentei qualquer coisa que não vou dizer aqui, não vás tu envaidecer-te. Mas mandei-te um abraço.
Contamos contigo. Mas precisamos mais de ti.
Um abraço.

António Mota

Anónimo disse...

«A escola existe para ensinar a pensar e a desenvolver potencialidades,o que significa que ela é na sua essência plural e não única ou de um sentido só.»-Plenamente de acordo.Esse deve ser o verdadeiro conceito de escola e não o que as hierarquias estão a querer impor!
Em Lisboa corre,correu um rio de forte corrente!!!E não se quer perder,e não se quer enfraquecer!