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quarta-feira, agosto 15, 2007

Dias em conta aberta

Estamos em Cavez, Cabeceiras de Basto, ali muito perto de Arosa, na companhia do músico e sacerdote Dr. Joaquim Santos. Estou eu e a minha colega Teresa Couto, está também a irmã do compositor, D. Maria, e mais duas minhas colegas, a Ondina Cunha e a Maria do Céu, esta é que tirou a fotografia. O dia estava quente, tinhamos comido ali no restaurante ao lado, umas couves com feijões, ao gosto da terra e da simpatia das gentes. A conversa girou em torno de uma encomenda musical: uma cantata sobre textos de S. Martinho de Dume para apresentarmos com os alunos da escola Dr. Francisco Sanches no próximo Festival MIMO de Braga, agora em Setembro. A partitura já chegou, depois de umas voltas no correio. A Ondina está a estudar o trabalho que nos vai dar a todos, embora o seu criador tenha afirmado que é de boa execução. Já não é a primeira vez, nem será a última, que peço e pedimos trabalhos de criação musical a Joaquim Santos. Em sua Casa da Casinha, ali perto, em Moimenta, respira-se uma atmosfera de simpatia, de dedicação e de humildade, na sua biblioteca ou escritório ou oficina sente-se um rigor de método, nas suas palavras os problemas são ultrapassados em sons, encomendas atrás de encomendas, em todos os géneros, mas com uma preferência pelas temáticas de expressão filosófica, mergulhada nos assuntos do mundo. Ofereceu-nos discos de obras suas: gostei particularmente do trabalho «Le forme dello spirito», gravado em Roma pela Orquestra Sinfónica Tiberina, na Capela de Santo António dos Portugueses, inserido no disco Concerto dell'Imacolata, IPSAR, 2006.

Na ponte de D. Luís, no Porto, num dia em que fui com minha mulher à sua consulta regular ao Hospital de Santo António. No fim fomos ao Museu Guerra Junqueiro atrás de uma imagem de Nossa Senhora da Uva, para um trabalho próximo sobre o cancioneiro do vinho. A imagem estava lá, é bonita, é sintomática, mas não a pude fotografar. Trouxe os caminhos para a conseguir, tudo pedidos simples e rápidos, vamos a ver. Depois parámos na ponte do eléctrico, para ver as margens e para excitar memórias recentes de um casamento de amor feito ali no Mosteiro do Pilar. Depois entrámos na Igreja de Santa Clara que eu estava muito longe de imaginar que seria o espectáculo de barroco mais extensivo que já vi. Por ali subimos a muralha Fernandina, recordei-me de uma cantiga que Ricardo Jorge enviara para o Cancioneiro de Músicas Populares de César das Neves, ao tempo em que viajava pelo Gerês e tinha como amigo de relações culturais Gonçalo Sampaio e talvez me tenha recordado deste pormenor porque me lembrei também de Maria José Costa, uma amiga que perdemos recentemente. As viagens rápidas fazem-se com memórias de pormenor.
Como é o caso desta cadeira de S. Silvestre, no monte do mesmo nome em Cardielos, nesse dia 25 de Julho em que eu e o meu amigo Rogério Borralheiro lá fomos para saber de modas e de costumes ligados a práticas festivas. Andámos por pedras e mato, arranhámo-nos q.b. e viemos de lá a perorar sobre tudo quanto não fazemos por nós próprios. Valeu o encontro de um amigo meu e colega, o Castilho, natural de Cardielos, homem de todas as influências na freguesia e na festa, generoso no almoço que comemos no Bar da Confraria ou Mesa e sabedor da história da cadeira, ao que se sabe, resultado de uma bengalada de S. Silvestre para acerto de contas ou afirmação de princípios. Que o Borralheiro encontrou descanso para o seu cansaço e eu aproveitei para a circunstância. Foi um dia de riso,até pelo encontro fortuito de dois romeiros curiosos monte acima, ambos dali, ambos cantadores de desafio mas um deles também tocador de concertina, com os dedos a lembrar as melodias e os braços a abrir e a fechar, mas agora no defeso por ter filho que em breve cantará missa, estatuto que não convirá, segundo ele a quem pode sempre ser tomado por abusador, por imitador ou por aprendiz de ofício inadequado a filho padre. No dia seguinte levantei-me a coxear com dores desarticuladas no flanco esquerdo, se calhar por não me ter sentado também naquela cadeira de poder natural.

1 comentário:

Anónimo disse...

Aprendi muito