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terça-feira, julho 10, 2007

Para a balança dos dias escolares

Acabou o ano lectivo de 2006/2007, ontem, simbolicamente, com aquela vigília na Escola Secundária Alberto Sampaio, aqui em Braga, em acto público de reflexão e de protesto pelas decisões burocráticas que afectaram a vida profissional do professor Artur Silva e que se tomaram como aquele cúmulo de procedimentos que ultrapassa os limites da paciência, da dignidade e da honra profissionais. Foi uma vigília contra os desentendimentos, de tempo, de lugares e de pessoas, como se o indivíduo, que deveria ser o maior bem a preservar, fosse o último elo de uma cadeia de consumíveis a soterrar nos aterros da mudança social. Ficará este caso como paradigma dos desentendimentos burocráticos, aqueles que radicam na mais criteriosa interpretação das leis, e que são o espelho visível da nossa fraqueza de bom senso, da nossa covardia e da nossa submissão aos poderes. Mas foi este o clima de crispação ao longo de todo o ano: os poderes centrais (o ME, a DREN, o CAE, a Lei, o Decreto, o Despacho, o Telefone, o E-mail) a quererem reconfigurar o quadro legal do exercício da profissão docente e a quererem provocar um entendimento burocrático unidireccional da mesma e a gente a agitar-se neste norte de vento agreste que se diz «escola a tempo inteiro», que se diz «escola sem graças e chalaças sobre o poder». As anedotas são o que sobra dos desastres de entendimento. Foi um ano de muitas intervenções sobre os professores, para todos os gostos e em todos os géneros, com aquela cereja da autoridade a vir sempre ao de cima, foi um ano de muito poucas reflexões sobre as escolas que temos e de que precisamos, enfim, foi um ano de transição para outro que aí vem, provavelmente mais burocrático ainda, mais verborreico e mais autoritário, provavelmente mais sinistro. A vida também se ergue dos insucessos e das tramóias, dos aterros nascem ervas pujantes e estas vão demonstrando que há na natureza uma capacidade de reequilibrar-se e de renovar-se.
Entretanto há que pôr na balança: as aulas de 90 minutos são cada vez mais pesadas, as áreas não disciplinares são cada vez mais pesadas, a indisciplina é cada vez mais pesada, a falta de oportunidades é cada vez mais pesada, a didáctica dos saberes é cada vez mais pesada, os métodos de avaliação são cada vez mais pesados e a dinâmica relacional nas escolas é cada vez mais pesada, só que este excesso de peso vai, quanto a mim, na direcção das inutilidades. Cresce o peso da burocracia e dos regimentos, cresce o peso dos relatórios, cresce o peso das trocas de informação com os órgãos centrais, mas não cresce o optimismo nem a esperança. Entretanto impõe-se uma escola a tempo inteiro que assenta em contratações de pessoal de outra natureza, entretanto retira-se a liberdade de opção aos pais e encarregados de educação pelos ATLs e pelos Centros de Aprendizagem, entretanto as provas de aferição fingem ser o que não são, entretanto os alunos escapam ao sistema, entretanto as escolas alinham na moda dos currículos alternativos em si mesmas (a água nasce e desagua na mesma fonte), os professores envolvem-se em projectos de cópia e colagem e os passeios continuam a ser a hora mais esperada. Bom, eu também peso menos na balança, ou melhor, peso mais para o lado que não queria. Foi um ano seco.

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