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segunda-feira, maio 21, 2007

Um casamento, uma comunhão e um baptizado

(Estas duas fotos foram tiradas por meu irmão António Machado; na da esquerda a mãe segura o afilhado e a madrinha limpa-lhe a cabecinha; na da direita o padrinho segura a vela e a mãe tem o menino ao colo) O Padre Orlando, da Cedofeita, Porto, presidiu e fez o baptizado: foi humanamente perspicaz e apelativo.
No dia 19 de Maio estive num casamento muito singular, o da filha de um amigo, filha essa que exerce a sua profissão numa instituição a que me ligam laços de solidariedade educativa, não obstante os reparos que tenho distribuído para que essa instituição seja mais eficiente em termos de recursos e de competências demonstrativas. Este casamento, que se estendeu pela tarde e pela noite, foi continuado no domingo por uma primeira comunhão e por um baptizado, ambos no Porto, de manhã, ambos de dois irmãos e meus sobrinhos, da parte de um irmão meu. Fomos os padrinhos, eu e minha esposa, completando assim uma ligação mais intima em termos das nossas duas famílias, posto que já éramos padrinhos do lado da família de minha esposa e agora ficamos a sê-lo do lado da minha, para além de o sermos do lado de outras, as de amigos. Nós não fomos felizes em termos de sucessão e isso agora até vem ao caso, porque se relaciona tudo e a nossa cabeça é o nosso mundo e o nosso mundo são as nossas realizações e frustrações, estas maiores que aquelas, porque somos de muito sonho e de menor concretização deles. Todavia sonhámos e tivemos duas meninas gémeas que não vingaram naqueles poucos dias de presença na maternidade do Hospital de S. Marcos. Então toda a escuridão do mundo foi abafada por uma esperança sem limites de nova oportunidade e próxima, mas não quis a fortuna nem a vida que fosse como sonhávamos e hoje estamos entregues a todo o amor aos outros que nos são próximos e relativos. Não deve um homem falar destas coisas num blogue destes, bem sei, mas as palavras fugiram-me e eu fui atrás delas só para evitar que se espaventassem em exagero com este lugarejo de fama que o blogue lhes é. Mas era aos minutos da fama que eu queria chegar e cheguei. A noiva e o afilhado e o batizando foram apenas um enxerto de imaginário, mas o essencial vem a seguir. Casamentos e comunhões e baptizados são ritos de passagem, mudanças de estado, entradas para novos estatutos da pessoa. De muitas e variadas formas se celebram, mas o seu essencial é todo feito dessa massa humana que se chama imaginário e esperança no novo, aspiração superior de mudança, desejo de outra plenitude, na comunidade, na família, na relação a dois, na vida pessoal. Vem-me à memória o choro colectivo que se desencadeou na igreja da minha freguesia nesse dia em que a comunhão solene do meu grupo de catequese nos obrigou a um compromisso colectivo de sermos melhores meninos, melhores cristãos e melhores cidadãos dali para a frente: foi a derrocada da contenção de lágrimas, desatou tudo a fungar e a soluçar que foi uma carrada de frescura. Depois as fotografias e a boda compensaram-nos. Mas onde eu quero chegar é à escola e à televisão, onde num dia destes apareceu, fulgurante e arrasador, um professor de Harvard a declarar-se portador de um novo método de ensino e de aprendizagem, desinibindo-se cruamente diante das câmaras a expor o seu caos de docência, que consistia precisamente em desafiar os alunos, expondo-lhes um problema a resolver e deixando-os depois em tal discussão que se convencessem uns aos outros do que sabiam e do que era preciso saber para descobrir as soluções do problema. Que os alunos se convençam uns aos outros com as suas explicações e os seus raciocínios, com os seus argumentos e as suas crenças, que sejam eles próprios a mobilizar os recursos informativos e documentais para encontrar as soluções. A cada passo aparecem estes minutos de fama e de visibilidade a lembrar-nos que anda alguém atrás da pólvora, que anda alguém a experimentar soluções. Já na minha formação profissional houve disto tudo; desde o trabalho cooperativo, desde a dinâmica de grupos, desde a sala em redondo e em quadrado, desde os quadros interactivos, desde a pesquisa em laboratório, desde a exposição pura e simples, desde o faça você mesmo, desde o experimente e torne a experimentar. A gente anda sempre a baptizar-se em pedagogias e a gente anda sempre a comungar novas possibilidades de alimentação desta cadeia de relações pessoais que é o ensino, que é a aprendizagem. A gente anda sempre a casar-se com gurus da última moda, ou seja, da última lapalissada. Tudo serve, tudo está bem, tudo enriquece a gente. A novidade é precisamente esta: a de uma pessoa fazer dos seus momentos de vida ritos de passagem para algo melhor e de superior realização. A gente até parece que não corre risco nenhum em optar pelo caos ou pela directividade plena da exposição pura e simples, a gente quando não estiver bem muda-se, volta a experimentar. Uma noiva quer casar-se para sempre e catequisando quer comungar a eternidade e o baptizando quer entrar no reino de Deus. É este programa de futuro que merece as modas pedagógicas, não são estas que precisam daqueles momentos para se revelarem como provisórias e efémeras. Os métodos variados devem estar ao serviço dos princípios. Mas não foi disto que falei à noiva, nem aos meus dois sobrinhos do Porto.

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