Pesquisar neste blogue

segunda-feira, maio 14, 2007

«Os Sinos da Sé»

Este conjunto de gente tem sido a minha consumição e eu a deles, sem que se possa medir quais de nós são mais gastadores de tempo e de paciência. O certo é que nos temos amparado, distraindo-nos e concentrando-nos em torno desta veleidade que são as cantigas e as poesias populares e mais aquelas criações que caem no âmbito da «cultura popular tradicional», valendo este apanhado verbal pouca lucidez de propriedade conceptual, que melhor fora dizer que gastamos o nosso tempo com aquele tipo de criações culturais cujo fascínio se nos colou ao corpo por serem simples, depuradas, contaminadoras de tudo quanto sabemos e dizemos, enfim, por serem aquele caldo que nos sutentou a educação aldeã ou rural, até urbana, que a cidade não foi por isso mais dada a outros gostos de sopa ou de presigo. Fizemos todos parte do Grupo Folclórico de Professores que agora mudámos para Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé» - de Braga, naturalmente, que foi essa a pia baptismal, para ser por si própria fundadora de um sentido de missão mais generoso, e de dever mais lúcido. Agora demo-nos ao trabalho de gravar um CD, um conjunto de 11 temas, para mostrarmos o que temos andado a mobilizar no jeito de fazer alguma festa com as sobras desta mesa actual de farturas cosmopolitas. Temo-nos na conta de colectores e praticamos uma etonografia de inclusão, ainda que a não estejamos a saber levar tão longe quanto gostaríamos. Os temas aí se ouvirão para se verem: cantares polifónicos de uso rural, ouvidos no campo, ainda provados na infância de alguns de nós, companheiros dos ofícios agrícolas daqueles que mantêm terras de cultivo e lidam diariamente com jornaleiros e lavradores; corais polifónicos de compositores bracarenses, Joaquim Santos e António da Costa Gomes, criados para a procissão do São João de Braga; cantigas de romaria e de arraial, dançáveis, contagiadoras, irónicas e picarescas, motivadas pela noite sanjoanina, pelo desejo; um romance do São João, de nossa criação, letra e música, aquela do Aurélio de Oliveira, esta de mim, numa ousadia que nos pode sair cara, mas que há-de ficar como vivência e estudo de muita literatura oral; uma cantiga narrativa de minha lavra, quase a cair no fado, mas sem ainda se assumir como tal, sobre o tema do amor perdido e achado, que é motivo sempre suficente para correr as capelas e os territórios do amor. Quando ouvirem, que digam, mesmo relevando algumas insuficiências de paciência para um registo mais profissional.

Sem comentários: