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segunda-feira, março 05, 2007

O adro vai sempre com a procissão.

Temos o adro como parte fixa, território de partida e de chegada, temos a procissão como coisa móvel, viagem de vai e volta. No caso desta foto, por ela se ilustra a pequena peregrinação que os meus alunos fazem pelo adro, o espaço entre as salas de aula, numa figuração do que uma aula pode ser. Tenho esta bizarria de procedimento há já uns anos, e os alunos acham-lhe piada, eu tomo-os como anjinhos da minha procissão. Mas, voltando atrás, dizemos que a procissão ainda vai no adro quando já antevemos que os sucessos da viagem vão dar que falar no adro. Ou, dizemos que a procissão ainda vai no adro quando os efeitos iniciais da viagem já dão sinais evidentes de «grande mar, grande tormenta», augurando expectativas surpreendentes. O adro é o permanente, a experiência, a velhice, a sabedoria, a procissão é o efémero, a volta, o devaneio, o atrevimento, a loucura. O adro é o património estabelecido, a procissão é o património virtual, o adro é o físico, a procissão é o imaginário. O Auto da Alma de Gil Vicente pode ser invocado. As palavras abrigam uma fonte de figurações alegóricas. Servem como outras. No caso da escola, o adro é ela mesma, o território fixo e a ideia que persiste na sua identidade. A procissão é a passagem dos alunos, a fuga da idade, o desconcerto das aprendizagens. Agora a questão é: quando a procissão sai, o adro fica ou vai com ela? A gente diz que fica, mas quando a procissão volta, o adro não parece o mesmo, nunca é o mesmo. Vai daqui... está visto onde o escriva chegou para dizer que o adro escolar faz parte da procissão e sai sempre com ela. Sendo mordoma da festa a D. Lurdes, a procissão está destinada a sair sem hora de chegar, que a freguesia é grande e os lugares a percorrer são muitos. Entretanto já se pressente que nem adro nem procissão vão ser os mesmos à chegada, seja esta onde for.

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