terça-feira, dezembro 26, 2006
Ceias de Natal - a mesa posta
15/12/06 - A segunda foi no Clube de Ténis de Braga, com bacalhau à moda da terra e com peru assado no próprio Clube por gente da Casa sob a direcção de ilustre gastrónomo e dirigente associativo, cujo nome não revelo por questões de extremo cautelismo de mão-de-obra: aquele recheio do galináceo, com aquele branquear de pinhões, deixou o sabor preso da gula, ainda mais crescida com aquela mesa de bilhar grande recheada de posodorias caseirinhas. Jogou-se à mesa, em singulares e pares, sempre com o primeiro serviço a entrar bem. Contei por lá umas histórias, para desempatar.
16/12/06 - A terceira foi a da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Braga e esta teve no fim o filme de João Botelho, «Viagem ao Coração do Douro», a ilustrar uma das dimensões que a mesa mais fomenta entre nós: a de mais nos expormos quando estamos bem comidos e bebidos. Expormo-nos, entenda-se, em fragilidades de terras e de seivas, em rudezas de caminhos e de projectos, embora tudo fique depois misturado em mosto, que sempre é mais estrume para outros devaneios. Lá se comeu o bacalhau e as batatas e as tronchudas, lá se falou da região, lá se afogaram umas tantas ideias sobre a paisagem que o Douro é, em água e em margens. A presença do Dr. Francisco Gil Silva, da Comissão Executiva das Comemorações dos 250 anos da Região Demarcada do Douro, deu um toque de excelência às garrafas de vinho fino.
24/12/06 - A quarta foi a de nossa casa, com os meus sogros, cunhado e cunhada e sobrinhos, oito à mesa. Na forma do costume, assim se pode dizer, sempre com mais afectação de recursos, mas também de resultados. Uma ceia que terminou no dia de Natal com a consagração que lhe veio trazer a presença do nosso afilhado do Porto, o Zé Carlos, com os pais e o irmão e a cunhada e os irmãos desta. Depois de tão difícil e longa série de intervenções médicas, o nosso jovem faz finca-pé na estatura dos seus 27 anos e ergue-se com o merecimento do sacrifício pessoal, um acto que o tem obrigado a renascer todos os dias, mas que acabará em superação, estamos certos e confiantes. De que forças precisamos nós e onde as vamos procurar? Que palavras nos podem consolar as intromissões imprevistas da fortuna? Que transcendência nos impele a não desanimar? Este Natal as respostas ficaram mais próximas de nós e sentimo-nos como reis que seguem uma estrela.
domingo, dezembro 24, 2006
Meu pai plantou as couves
quarta-feira, dezembro 20, 2006
Na tal instante ocasião
Há livros que o Natal escreve,
Há um Natal que os nossos olhos visam
E esse é que nos serve.
terça-feira, dezembro 19, 2006
Deveres de ofício: de Novembro a Dezembro
São os cactos da nossa janela, ao cuidado do tempo e das mãos da Tininha que os preserva como os dias, espinhosos e floridos, tão intensos de dores como de cores. Os extremos dão jeito à delimitação das isotopias do sentido e esta dos cactos veio a propósito. Que se preservem as imagens, as reais e as da literatura, umas e outras acabadas nas palavras.
De Novembro, ficaram os dias, agora, reduzidos a memórias breves, uma, a dos aniversários de amigos e de familiares, dada pontualmente pelo calendário do telemóvel, outra, a dos trabalhos escolares, esta sempre apagada e recalcada pelos seguintes, que seguem todos ensarilhados uns nos outros, os de trás avisando sobre os da frente e estes não querendo saber dos avisos e continuando sempre a mesma pressa de consumo e de esquecimento. Será marca da idade, defesa da própria vida contra as veleidades que os trabalhos futuros trazem agarrada a si, como se fossem os decisivos do nosso entusiasmo. E depois passam e foram o que pareceram, gastadores de sabão. Mas a graça está em fazer bolinhas e vê-las sair e vê-las pousar e vê-las sumir. Mas talvez eu esteja mesmo a escrever isto movido pela memória do livro «Quatro Estações», poemas de Mário Dias Ramos e fotografias de Miguel Louro, que eu fui, com os autores, apresentar ao Diana-Bar da Póvoa de Varzim, esse espaço de animação que a autarquia povoense mantém em ritmo de cruzeiro, no fim de tarde de 25 de Novembro: os poemas, disse o autor, beberam o sentido no envelhecimento do corpo, no cansaço da vida, na utopia de um lugar outro que vem empurrar este; as fotografias, disse eu, beberam a luz na fuga de si mesma contra o tempo, evitando o contacto próximo com as coisas, as casas, as ruas, os corpos, o mar. Precisamos de continuar a pensar que não nos esgotámos, caráspite!
A bola - duas idas às Antas foi obra, mas os convites fizeram-se para isso e gastaram-se assim. Só me falta agora uma terceira vez para confirmar a roleta do azar. Já por uma vez, aqui há anos, num jogo Porto-Real Madrid, eu saíra com amigos de Braga e com o bilhete para meu pai que me esperava à porta do estádio, ainda o velho; eu saíra já tarde, mas todos nos fiáramos na leveza da auto-estrada. Foi bonita a angústia de não ver saída que não a de seguir em frente, naquela fila ronceira de carros e mais carros, que houvera acidente lá algures e o trânsito entupira. E eu no carro, éramos cinco e dois miúdos, então, carro que nem lhe adiantara nada ser rápido e ser seguro e ser jipe! E meu pai à minha espera! Entrámos para o Estádio a cinco minutos da segunda parte. Agora: Porto-Arsenal. Desta vez pareceu-me o tempo de saída de Braga demasiado cedo, mas aceitei que o azar nos pudesse visitar de novo e considerei o horário uma questão de seguro. Éramos quatro. Que a pariu, à auto-estrada e a mais quem lá anda convencido que é larga e rápida e segura. Que o pariu, ao acidente lá na frente e a quem o viu ou por ele passou a esganar-se e a esganar quem fosse e pudesse agarrar. Que me pariu a mim que aceitei o convite de meu irmão, que saiu de Lisboa uma hora antes de eu sair de Braga, e me esperaria religiosamente com o bilhete na mão até eu chegar se entretanto não me tivesse ocorrido uma troca de vítimas, ele pelos filhos dos colegas com quem ia, que localizaram meu irmão por telemóvel e lhe ficaram com o meu bilhete. Já passavam vinte minutos da primeira parte quando entrei nas Antas, e quando abracei meu irmão já passavam vinte e dois, tal foi a pressa com que subi um ror de escadas. Eu já fiz a promessa de voltar a viajar com o mesmo condutor e com os mesmos amigos na hora de morrer, que assim chegaremos todos atrasados, e bem. Mas se houver uma terceira hipótese, há-de ser com bilhete na mão e saída de véspera. Sempre quero ver se o destino ou o azar, que é seu parente, têm os cornos afiados.
domingo, dezembro 10, 2006
A memória da festa que o amor causou
sábado, dezembro 09, 2006
Se não houver o que nós queremos
É verdade, tem de ser, ou nos mesmo sítios ou noutros, como se fora esta a nossa razão de ser: procurar. O quê? A explicação para o sofrimento, ou antes, a explicação para lhe dar sentido ou para o projectarmos como sentido de nós próprios, como horizonte, neste querer dizer que a palavra é um futuro de valores, de explicações, de soluções ou de suspensões. Coloca-se a questão de Deus, pois que se coloque, mas não para colocar na conversa um juízo ou uma fixação deterministíca, mas antes para considerar que a questão de Deus é a nossa questão, resolver com Ele é resolver connosco e entre nós e para nós, é validar para um futuro de nós a mesma necessidade e a mesma explicação. O sofrimento é então uma marca indelével de nós, é-a também de Deus e a explicação para ele terá de sossegar os dois: no homem como marca de temporalidade provisória, em Deus como desejo absoluto de superação. Deixo assim, porque a resposta ao meu poema de Natal, por parte de meu compadre João Alves Dias me fez enveredar por aqui e senti que não tenho fôlego para muito mais. Esta problemática do sofrimento, vista só pelo nosso lado de mortais e finitos, é uma procura desesperada de soluções, é um acumular de investimentos e de esperanças, é um desencadear de queixas e queixumes, mas também de resistências e de superações. Mas vista pelo lado da transcendência espiritual, logo também pelo lado de Deus, esse que seja nosso ou de outros, requer mais esforço de superação dos limites em que pensamos ou em que estamos habituados a pensar, disto não tenho dúvidas. Então, onde estribar esse desejo ou esta necessidade de superação?
domingo, dezembro 03, 2006
Um poema para a Mediação escolar
Refrão:
Eu sou capaz, eu sou capaz,
Digo isto de cor,
Eu sou lindo (a), eu sou bonito(a),
Eu mereço o melhor.
Hoje o dia está
Tão maravilhoso,
Abro os olhos já,
Tudo é espantoso.
Abro a boca e canto
A felicidade.
Mostro o meu encanto
Rio-me à vontade.
Hoje a vida tem
Lições positivas.
Eu procuro bem
Minhas perspectivas.
Preparo o futuro,
Olho para a frente,
Vou-lhe dar no duro,
Estou aqui presente.
Refrão:
Eu sou capaz, eu sou capaz,
Digo isto de cor,
Eu sou lindo (a), eu sou bonito(a),
Eu mereço o melhor.
Todo o ser humano
É uma estrela imensa,
Brilha todo o ano,
Acredita e pensa.
Olho a energia
Que o Sol me dá
Pra vencer um dia
Sei que chego lá.
Eu posso alcançar
Onde os outros vão
Tenho luz no olhar
Paz no coração.
Não deixo que a lua
Se apague em mim,
Sigo, venço a rua,
Vou até ao fim.
Refrão:
Eu sou capaz, eu sou capaz,
Digo isto de cor,
Eu sou lindo (a), eu sou bonito(a),
Eu mereço o melhor.
Levanto a cabeça:
Como é linda a vida!
Pra que eu a mereça
Tem de ser vencida!
Por uma batalha,
Não se perde a guerra,
E só quem trabalha
É que ganha a terra.
Tudo tem solução
Com honestidade,
Trago em minha mão
Ânsias de verdade.
Esta vida assim
Vale mais que o ouro
É o meu jardim,
É o meu tesouro.
Refrão:
Eu sou capaz, eu sou capaz,
Digo isto de cor,
Eu sou lindo (a), eu sou bonito(a),
Eu mereço o melhor.
Poema de Natal 2006
Voltar ao presépio
Já pensei que o Natal pudesse ser
A razão mais ousada e libertária
De um pobre, rebelde, ou guerrilheiro,
À procura desse outro amanhecer:
Em que o povo, de posse igualitária,
Une as mãos e convence o mundo inteiro.
O Natal, estratégia de poder,
Desafio, cruzada visionária,
Testemunha, profeta, timoneiro!
Foi assim. Acabei por me perder.
E o meu sonho, por mão humanitária,
Convalesce, pasmado num pinheiro.
Vou voltar ao Presépio do Menino
E pensar de outro modo o meu destino.
(São os nossos votos de Boas Festas
e de um Ano Novo cheio de sucessos.
José Machado e Albertina Fernandes.
Braga, Natal de 2006)