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quinta-feira, outubro 19, 2006

Até à Biblioteca LCS

Vou lá, embora suspeite que não vou ter público para as histórias. Tomo café na Brasileira, se lá estiver o Mota falo com ele, troco umas repetidas e outras novas, embora suspeite que ele não vai estar lá, está a chover muito, se estiver ainda lhe falo naquele «site» do Desidério, o tal da filosofia analítica que o Zé António me recomendou, «criticanarede», essa espécie de linguagem lógica que nada quer omitir quando tudo quer deixar claro, mas se ele não estiver... Ainda não veio, mas vem - disse o empregado com a bandeja cheia de serviço. O café soube-me bem, em cheiro e temperatura, mas deu-me o sono e quase dormitei. Na esquina da Rua, no cruzamento, o flautista toca de joelhos o «bolero de Ravel», um euro sem hesitação no tampo da caixa dos sapatos e deixa-o tocar que ele gosta e quer assim e a troca fica equilibrada. Está quase tudo dito até à esquina, o pensamento passa por si próprio e não se enche, rejeita isto, rejeita aquilo e devaneia, salta, fantasia, mistura mas não escolhe. Aceito a brevidade e sinto os pés molhados, afinal as botas da Ideal «entrem água», à minhota, como ouço dizer e é incorrigível, até que sequem. Estou com sono e a biblioteca presta-se. Entro na «rede» e agora escrevo no blogue, vou precisamente aqui, nesta linha, nesta palavra palavra para dizer que estou com vontade de terminar. Ao meu lado está uma jovem, insistente viajeira pela net, floribela despachada pelo Sapo fora à procura de flores. Não tive infância de brinquedo assim, em Jales, naquela biblioteca do Clube Desportivo do Pessoal das Minas, Centro de Alegria no Trabalho, donde meu pai trazia uns livros de histórias que se abriam e ficavam à frente do meu nariz, direitinhas como gente, a mexerem-se até eu querer. E agora nem sei porquê veio-me à cabeça a imagem lindíssima da minha catequista, loira, perfumada, maternal, doce na palavra e levíssima nos gestos, a esposa do patrão das minas, traço histórico que não posso deixar de referir nesta exposição analítica, pedra angular de muita argumentação posterior. Creio que me ficaram dela todas as aprendizagens sobre o encantamento das palavras, e poucas são estas, as que deixo aqui. Vou-me sentar ali e adormecer. Não sei se deva.

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