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segunda-feira, setembro 18, 2006

Feiras Novas - a festa cheia

Ponte de Lima, 16/09/06 - Cortejo etnográfico e noitada nas Feiras Novas. A ideia de ir à festa redime o corpo, cansa-o e se nem sempre o compensa será pelas razões do próprio corpo, que as da festa são sempre as melhores, as do excesso, as de encher tudo com a fartura do tempo, as de esconder tristezas e sinais de crise até onde as «calças» deixarem tapar. Que as mazelas vêem-se sempre e deixam rasto, seja o lixo amontoado por tudo quanto é esquina ou lugar de o pôr, seja a falta de sanitários, seja a falta de parques, seja a falta de restaurantes, seja a falta de espaço mesmo para se estar conforme se quer estar. Mas nestas feiras novas tem de se estar ao jeito que elas consentem, tal é o aperto de gentes e de eventos, tal é o desejo que as procura. As duas festeiras sentadas são a minha mulher, a Tininha, de «lenço» laranja e a Helena, a mulher do Rogério Borralheiro, sentadas por bem da arte dos vendedores de banquinhos, dois a cinco euros, que o número cinco era o rei das transacções, só variando a quantidade de peças a comprar, aqui cinco guarda-chuvas, ali seis pares de meias, ali umas calças rotas, acolá duas camisetas de marca ou uns sapatos a escolher e por aí adiante, tudo a cinco euros. Do cortejo etnográfico, em estilo directo e cru, vivendo como representação a vida quotidiana dos campos e das artes que sustentam ainda a vida que se tem, fica a memória do tom de paródia e da conivência entre «actores» e espectadores, mas também o descuido do arremedo e da imitação naquelas áreas que são mais caras ao desejo de preservação, como a da música e a dos trajares. Da noitada, fica o deslumbramento com o enchimento de rusgas e tocatas, onde a concertina é instrumento dominante e onde o apelo às coreografias da tradição ou o impulso do canto à desgarrada requereriam mais mestria e mais espaço. Sobrou a quantidade de gentes a deslocarem-se lenta e custosamente de lado para lado, a não quererem perder pitada de nada, muito menos naquelas ruas onde a juventude e as músicas contemporâneas se estreitam e se consomem numa gestualidade de progressivo desejo: o de estarmos juntos, em simultâneo, no ar da festa, com quem queremos ou muito perto de encontrar quem procuramos.

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