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quinta-feira, junho 08, 2006

Propostas e provocações

Quem morre de amores por ti, ó Lurdes?
Sócrates, que não duvida da tua entrega à causa de mudar o mundo, mudando a escola, mudando os professores. E Sócrates chega. Depois dele, outros virão declarar-te a paixão e a devoção. Se calhar, por bem e por obras ou atavios que eu e outros desconhecemos ou não sabemos ver para além das evidências que nos mostras na frieza dos contactos, no enfado da presença e na lamúria das palavras. Por razões que ainda não apurei, eu e outros não caímos no goto da tua sedução. Eu tentei, segui-te atentamente os passos e dei-me ao cuidado do entendimento das intenções. Frustrei-me, mas não desanimei de todo. Há grandes amores que nascem depois de grandes zangas e eu ainda me disponho a cair nesse lugar comum. Entretanto, li num jornal de domingo, com a dedicação de uma leitura escolar, que tens os professores na conta dos melhores e imprescindíveis companheiros de trabalho para um futuro promissor, desde que estejamos dispostos a abdicar dos nossos «vícios» de aconchego, vulgarmente tomados como direitos adquiridos. E eu que tive sempre a consciência de andar a trabalhar nas condições mais precárias! Pedias propostas e elas aí vão, para que o desamor não dure a vida toda. Concentra-te na escola e redu-la ao mínimo da certificação possível e desejável: retira-lhe as áreas não disciplinares, retira-lhe os 90 minutos de tédio e dá-lhe a eficácia dos encontros de hora a hora; dá-lhe a maleabilidade curricular desde o 5º ano, acabando com a ementa igual para todos e deixa que os exames resolvam o que as desistências querem provocar; dá às escolas o direito de aceitação da matrícula e dá aos pais o direito de escolha das escolas; exige aos alunos a certificação para o trabalho e deixa-os gerir o tempo de estudo; dá aos professores a liberdade de organizarem os tempos extra-escolares, mas paga-lhes a vontade e o esforço, ou dá aos pais essa capacidade de o fazerem; despacha os professores da gestão escolar - evita-nos os confrontos de classe - e contrata gestores por objectivos; livra-te dos pais manipuladores e obriga-os à escolha de currículos para os seus educandos; acaba com os livros caros e obriga ao pagamento generalizado de livros baratos, leves e actualizáveis; obriga-nos à avaliação por nós e por aqueles que estão acima de nós, mas não nos deites às feras dos afectos ou à desobriga dos humores; paga-nos de modo a não invejarmos o teu salário, nem o daqueles que, sendo professores como nós, foram contratados para a gestão de «coisas» públicas, algumas ainda menos produtivas que a escola; não faças de cada escola pública uma ilha dentro do mar comum, mas dá-lhe os recursos e os meios necessários: salas, serviços, ginásios, bibliotecas, computadores, espaço comum; não continues a libertar professores para tarefas que não sejam escolares com alunos; sorri-nos, que não te fizemos mal.

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