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domingo, junho 18, 2006

Presença da Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé»

A procissão de S. João

Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé» apresenta novo cântico a S. João na procissão do dia 24 de Junho.
Desde o princípio do ano que o Grupo Folclórico de Professores de Braga se transformou na Associação Cultural e Festiva «Os sinos da Sé», tendo, para isso, alterado os seus estatutos de modo a poder receber todas pessoas de boa vontade interessadas na prática e na criação de manifestações culturais de cariz popular, a vários níveis de intervenção, sendo um deles a presença regular na procissão de S. João de Braga, com a apresentação de cantares específicos de carácter religioso, produzidos expressamente por compositores contemporâneos. É o que vai acontecer este ano, em que o grupo, para além de retomar uma criação coral do professor Costa Gomes, com letra de José Machado, vai interpretar um hino a S. João da autoria poética de Castro Gil e da autoria musical de Joaquim Santos. Eis a letra:

HINO A S. JOÃO DE BRAGA
S. João, nós Vos saudamos,
Com fé, gratidão e amor:
No mundo em que caminhamos,
Convosco, o Senhor louvamos
De quem fostes Precursor.

Nobre mártir da verdade
Sem receio defendida:
Braga, que é Vossa cidade,
Quer a verdade na vida.

Pelas margens do Jordão
Destes a ver o Messias:
Dai-nos a mesma atenção
Na vida, todos os dias!

Se há ainda Herodes agora
A calar a Vossa voz,
Dessa coragem de outrora
É que precisamos nós.

Pequena é Vossa Capela,
Mas a devoção a afaga;
E faz, ao contrário dela,
A maior festa de Braga.

Por isso Braga e S. João
São bons parceiros leais.
E o que uniu a tradição
Ninguém o separe mais!

O pedido expresso desta composição poética ao professor Doutor Amadeu Torres, que assina as obras literárias sob o pseudónimo de Castro Gil, revestiu-se de toda a intencionalidade festiva e cultural, porquanto se trata de um poeta de fino estilo clássico, de profunda erudição e de genuína sabedoria popular. O poeta Castro Gil, entre os dias 15 e 18 de Maio deste ano de 2006, deu-nos, de facto, uma saborosa poesia de cariz popular tradicional, mantendo nela toda a presença da sua erudição bíblica e evangélica, num estilo de linguagem onde se faz presente uma construção frásica de recorte classizante, de inspiração barroca no que se refere à mistura de referências e ao cruzamento de sentidos. O refrão ou estribilho, na forma de uma quintilha, consagra as intenções da saudação e do louvor, unindo os três elementos básicos da relação religiosa – o Senhor Jesus, o profeta João e o povo –, numa hierarquia de súplica necessária às vivências no mundo contemporâneo. Depois, em cinco quadras, o poeta Castro Gil misturou sabiamente três dimensões da mensagem que a festa Bracarense ao S. João conserva e recria todos os anos: a história bíblica do Baptista, na sua condição de Precursor do Messias e de vítima da ferocidade de Herodes, a referência aos lugares da festa, a capela de S. João na Ponte e a cidade de Braga, e a lição evangélica do acto religioso, a qual se estriba na defesa dos valores como a verdade, a atenção, a coragem, a devoção e a união, absolutamente necessários hoje em dia para a vivência da fé cristã.

Sobre estes versos, o compositor Joaquim Santos produziu uma tão simples quanto interessantíssima harmonização de vozes, com diversidade rítmica e estilística, em modo maior, de modo a salientar a mensagem poética, mas também a manter vivas as características do canto popular, a capella. Com uma novidade que deixará surpreendidos os ouvintes: a melodia do refrão, em duas vozes, deverá ser acompanhada por gaita-de-foles, criando-se assim uma atmosfera de romaria galaico-portuguesa, com a presença do gaiteiro, em que o canto ocorre sob um arpejo melódico em contínuo e uma sustentação prolongada das notas principais do acorde, a tónica e a dominante, execução simultânea que a gaita-de-foles possibilita. A estrofe será cantada na forma de cânone, com o desencontro de vozes que esta forma permite, o que não deixa de estar em consonância com a impressão geral que os cantares processionais deixam no ouvido quando dispersos pelo caminho e pelos vários romeiros. Oxalá a interpretação resulte ao ar livre e os intérpretes possam estar à altura do criador, neste caso, o Padre Joaquim Santos, compositor de renome e de múltiplas obras nos vários domínios da arte musical.

Mais do que uma atitude de proselitismo religioso ou de euforia cristã, a presença da Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé», na sequência de anteriores intervenções do Grupo Folclórico dos Professores de Braga, pretende manter viva e digna de apreço uma das dinâmicas que a tradição religiosa enraizou na nossa cultura, precisamente a dimensão da peregrinação ou da caminhada festiva, para a qual e na qual o canto coral, polifónico, de criação poética e musical sempre renovadas, desempenhou e desempenha um papel de ilustração e de reflexão.

Deste modo, a Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé», respondendo ao apelo da Comissão de Festas de S. João, apela à presença atenta dos romeiros ao longo da Procissão e à sua presença no ritual litúrgico de encerramento da mesma na Sé de Braga, onde os cânticos a S. João voltam a ser interpretados.

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