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domingo, junho 04, 2006

Eu, os pais e os alunos

Mais longe é ainda perto
Está no ar a célebre proposta de os pais avaliarem os professores, ainda que de modo mínimo e em linguagem mínima. Donde veio tal ideia? Que fundamentos pode ela ter? Que vantagens traz? Saiu da cabeça de alguém, iluminado, provavelmente sabedor de estratégia: os pais assim são mobilizados para a pressão sobre os docentes. Estes andaram anos a pedir a participação dos pais na educação dos filhos, andaram anos a solicitar-lhes a intervenção nas mais simples questões de acompanhamento escolar! Numa altura em que cada vez mais os pais pedem aos professores para fazerem de pais, alguém se lembrou de os chamar a avaliarem os professores. Tudo bem, desde que cada professor saiba e conheça o pai que o avalia, tal como cada pai conhece e sabe qual o professor que avalia o seu filho ou educando. Nada de avaliações anónimas ou por estatística. Mas esta medida tem algum fundamento? Nenhum, que não é da natureza da formação docente a ocorrência de qualquer avaliador deste tipo: ora se não ocorre na sua formação, por que carga de água deverá ocorrer no seu desempenho? Diz-se que o pai segue a história escolar do filho? A história ou a ficção dela? E por seguir a história ou a sua ficção, já deve avaliar? Avaliar o quê? A simpatia? A dedicação? Fica aberta a porta para toda a espécie de pantominices, mas, pronto, ao menos que eu saiba que pai me avalia! Mas, já agora, porque não ir mais longe e pedir aos pais que avaliem os próprios filhos? Sim, eu, professor, preparo-lhes a papinha toda e eles ainda podem juntar mais a tal história ou ficção: dar-lhes-ei os resultados dos testes, as ocorrências de sala de aula, as observações e reparos, os incidentes críticos, as faltas e as mais objectivas anotações sobre comportamento e cumprimento; o pai junta os dados e dá as notas: Eu só quero ensinar e dedicar-me por inteiro aos alunos. Outra nota: se o Estado nunca conseguiu que um presidente do Conselho Executivo tivesse qualquer papel na avaliação docente, se nunca conseguiu que um presidente do Conselho Pedagógico, idem, aspas, se nunca conseguiu que um Coordenador de Departamento, idem aspas, se nunca... idem, aspas, para a Assembleia de Escola, onde os pais estão representados, idem, aspas, para a inspecção ou qualquer outra entidade exterior, idem, aspas, para os alunos... vai começar a avaliação dos docentes pelos pais? De facto, alguém, no Ministério, é perito em estratégias de terror.

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