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quinta-feira, março 02, 2006

Aulas de substituição

As aulas de substituição, que reflexão fazer sobre este novo problema? A mesma que se faz quando os problemas são velhos, relhos e bufelhos, ou seja, quando os problemas subsistem no tempo, incomodam e irritam e falam por si, denunciam situações.
Primeiro explique-se o caso: as aulas de substituição são as aulas dadas por um professor que não pertence ao corpo docente de uma dada turma, e que vai substituir o professor titular de uma dada disciplina num tempo lectivo em que ele faltou, com aviso prévio ou sem aviso prévio. Esta aula de substituição não é uma aula normal, isto é, não tem carácter lectivo de ensino ou de aprendizagem da matéria prevista, é uma ocupação do tempo.
Donde veio esta ideia das aulas de substituição? Veio desde o princípio da escola, vem do mesmo lugar de onde vêm as tarefas de substituição nas empresas ou nos locais de trabalho, só que com uma grande diferença que na escola, e por ser na escola, tinha de ser ao contrário da realidade simples e comezinha de todos os outros lados. Nas empresas, substituir implica fazer o mesmo trabalho, ou seja, quem vai substituir alguém, vai fazer o trabalho que esse alguém tinha de fazer, porque trabalho é trabalho e tem de se fazer. Mas na escola, alguém distorceu o sentido de substituição: substituir é ir para o lugar do outro fazer o que ele não faz.
Um dos problemas do problema começa neste acto arbitrário de inverter o sentido das palavras. Que actividades de ocupação dos alunos desencadeia o professor substituto? As que bem entender, mas que, por pressão dos alunos que não vão ter a aula prevista, irão sempre no sentido do lúdico, do passatempo, da conversa fiada e do crédito de tolerância de assuntos disponível. Logo aqui começa outro problema que é estranho à escola: esta ideia simplória que, não estando o professor da matéria disciplinar, ninguém deve ensinar mais nada ou de outra maneira se não for professor daquela turma e daquela disciplina ou área de saber ou de não saber.
As aulas de substituição apareceram porque os «feriados» dos professores titulares cresceram como cogumelos e o normal funcionamento de uma escola é perturbado pela quantidade de alunos que num determinado tempo lectivo ficam impedidos de ter aula. As aulas de substituição desaparecem se os professores não faltarem, evidentemente. Mas a ideia dos feriados não faz parte da cultura escolar? Claro que faz e toda a história da educação que se preza de o ser não lhes poderá negar relevância: sempre os alunos ansiaram por um feriado, sempre os alunos desejaram que o professor faltasse de vez em quando. Esta vontade de liberdade ou de libertação faz parte da essência da escola, como o faz a vontade de obrigação e de aceitação dos horários lectivos. O feriado é desejado e festejado por ser um tempo livre de educação em ambiente escolar, por o aluno se poder deslocar para onde quiser, com quem quiser e ocupar o tempo de outra maneira.
Portanto esta ideia de ocupar os tempos lectivos dos alunos mesmo quando os professores titulares não estão presentes surgiu como necessidade de produção, digamos assim, dada a frequência de faltas e dada a falta de alternativas escolares à ocupação dos alunos em situação de liberdade pontual: nos recreios ou nos corredores eles prejudicam quem está em aula, no recreio eles envolvem-se em problemas e acidentes. Para além do mais, diga-se, sempre houve alunos que se sentiram lesados com a ideia dos feriados, porque o que eles querem, na escola, é estar com os professores, é ter que fazer.A meu ver, esta ideia das aulas de substituição, tais como estão a ser encaradas, não vai levar a nada. Em seu lugar deveria haver as seguintes medidas: os professores faltarem menos e sempre numa base de previsibilidade, podendo organizar entre eles a substituição ou troca de tempos lectivos; a escola deveria organizar recursos educativos para os alunos frequentarem em caso de falta do professor titular: oficinas didácticas, clubes culturais, ateliês de arte, salas de estudo, bibliotecas e centros de informática; nestes recursos verificar-se-ia sempre a presença de professores interessados e especializados; em caso de feriado, os alunos escolheriam os locais para onde se podiam dirigir. A liberdade de escolha é sempre preferível à obrigação gratuita, a obrigação de liberdade de escolha é um objectivo da filosofia escolar: a escola está cá para incutir nos alunos a obrigação moral de escolherem sempre o que é melhor para eles.

1 comentário:

helena_flores disse...
Este comentário foi removido pelo autor.