terça-feira, dezembro 26, 2006
Ceias de Natal - a mesa posta
15/12/06 - A segunda foi no Clube de Ténis de Braga, com bacalhau à moda da terra e com peru assado no próprio Clube por gente da Casa sob a direcção de ilustre gastrónomo e dirigente associativo, cujo nome não revelo por questões de extremo cautelismo de mão-de-obra: aquele recheio do galináceo, com aquele branquear de pinhões, deixou o sabor preso da gula, ainda mais crescida com aquela mesa de bilhar grande recheada de posodorias caseirinhas. Jogou-se à mesa, em singulares e pares, sempre com o primeiro serviço a entrar bem. Contei por lá umas histórias, para desempatar.
16/12/06 - A terceira foi a da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Braga e esta teve no fim o filme de João Botelho, «Viagem ao Coração do Douro», a ilustrar uma das dimensões que a mesa mais fomenta entre nós: a de mais nos expormos quando estamos bem comidos e bebidos. Expormo-nos, entenda-se, em fragilidades de terras e de seivas, em rudezas de caminhos e de projectos, embora tudo fique depois misturado em mosto, que sempre é mais estrume para outros devaneios. Lá se comeu o bacalhau e as batatas e as tronchudas, lá se falou da região, lá se afogaram umas tantas ideias sobre a paisagem que o Douro é, em água e em margens. A presença do Dr. Francisco Gil Silva, da Comissão Executiva das Comemorações dos 250 anos da Região Demarcada do Douro, deu um toque de excelência às garrafas de vinho fino.
24/12/06 - A quarta foi a de nossa casa, com os meus sogros, cunhado e cunhada e sobrinhos, oito à mesa. Na forma do costume, assim se pode dizer, sempre com mais afectação de recursos, mas também de resultados. Uma ceia que terminou no dia de Natal com a consagração que lhe veio trazer a presença do nosso afilhado do Porto, o Zé Carlos, com os pais e o irmão e a cunhada e os irmãos desta. Depois de tão difícil e longa série de intervenções médicas, o nosso jovem faz finca-pé na estatura dos seus 27 anos e ergue-se com o merecimento do sacrifício pessoal, um acto que o tem obrigado a renascer todos os dias, mas que acabará em superação, estamos certos e confiantes. De que forças precisamos nós e onde as vamos procurar? Que palavras nos podem consolar as intromissões imprevistas da fortuna? Que transcendência nos impele a não desanimar? Este Natal as respostas ficaram mais próximas de nós e sentimo-nos como reis que seguem uma estrela.
domingo, dezembro 24, 2006
Meu pai plantou as couves
quarta-feira, dezembro 20, 2006
Na tal instante ocasião
Há livros que o Natal escreve,
Há um Natal que os nossos olhos visam
E esse é que nos serve.
terça-feira, dezembro 19, 2006
Deveres de ofício: de Novembro a Dezembro
São os cactos da nossa janela, ao cuidado do tempo e das mãos da Tininha que os preserva como os dias, espinhosos e floridos, tão intensos de dores como de cores. Os extremos dão jeito à delimitação das isotopias do sentido e esta dos cactos veio a propósito. Que se preservem as imagens, as reais e as da literatura, umas e outras acabadas nas palavras.
De Novembro, ficaram os dias, agora, reduzidos a memórias breves, uma, a dos aniversários de amigos e de familiares, dada pontualmente pelo calendário do telemóvel, outra, a dos trabalhos escolares, esta sempre apagada e recalcada pelos seguintes, que seguem todos ensarilhados uns nos outros, os de trás avisando sobre os da frente e estes não querendo saber dos avisos e continuando sempre a mesma pressa de consumo e de esquecimento. Será marca da idade, defesa da própria vida contra as veleidades que os trabalhos futuros trazem agarrada a si, como se fossem os decisivos do nosso entusiasmo. E depois passam e foram o que pareceram, gastadores de sabão. Mas a graça está em fazer bolinhas e vê-las sair e vê-las pousar e vê-las sumir. Mas talvez eu esteja mesmo a escrever isto movido pela memória do livro «Quatro Estações», poemas de Mário Dias Ramos e fotografias de Miguel Louro, que eu fui, com os autores, apresentar ao Diana-Bar da Póvoa de Varzim, esse espaço de animação que a autarquia povoense mantém em ritmo de cruzeiro, no fim de tarde de 25 de Novembro: os poemas, disse o autor, beberam o sentido no envelhecimento do corpo, no cansaço da vida, na utopia de um lugar outro que vem empurrar este; as fotografias, disse eu, beberam a luz na fuga de si mesma contra o tempo, evitando o contacto próximo com as coisas, as casas, as ruas, os corpos, o mar. Precisamos de continuar a pensar que não nos esgotámos, caráspite!
A bola - duas idas às Antas foi obra, mas os convites fizeram-se para isso e gastaram-se assim. Só me falta agora uma terceira vez para confirmar a roleta do azar. Já por uma vez, aqui há anos, num jogo Porto-Real Madrid, eu saíra com amigos de Braga e com o bilhete para meu pai que me esperava à porta do estádio, ainda o velho; eu saíra já tarde, mas todos nos fiáramos na leveza da auto-estrada. Foi bonita a angústia de não ver saída que não a de seguir em frente, naquela fila ronceira de carros e mais carros, que houvera acidente lá algures e o trânsito entupira. E eu no carro, éramos cinco e dois miúdos, então, carro que nem lhe adiantara nada ser rápido e ser seguro e ser jipe! E meu pai à minha espera! Entrámos para o Estádio a cinco minutos da segunda parte. Agora: Porto-Arsenal. Desta vez pareceu-me o tempo de saída de Braga demasiado cedo, mas aceitei que o azar nos pudesse visitar de novo e considerei o horário uma questão de seguro. Éramos quatro. Que a pariu, à auto-estrada e a mais quem lá anda convencido que é larga e rápida e segura. Que o pariu, ao acidente lá na frente e a quem o viu ou por ele passou a esganar-se e a esganar quem fosse e pudesse agarrar. Que me pariu a mim que aceitei o convite de meu irmão, que saiu de Lisboa uma hora antes de eu sair de Braga, e me esperaria religiosamente com o bilhete na mão até eu chegar se entretanto não me tivesse ocorrido uma troca de vítimas, ele pelos filhos dos colegas com quem ia, que localizaram meu irmão por telemóvel e lhe ficaram com o meu bilhete. Já passavam vinte minutos da primeira parte quando entrei nas Antas, e quando abracei meu irmão já passavam vinte e dois, tal foi a pressa com que subi um ror de escadas. Eu já fiz a promessa de voltar a viajar com o mesmo condutor e com os mesmos amigos na hora de morrer, que assim chegaremos todos atrasados, e bem. Mas se houver uma terceira hipótese, há-de ser com bilhete na mão e saída de véspera. Sempre quero ver se o destino ou o azar, que é seu parente, têm os cornos afiados.
domingo, dezembro 10, 2006
A memória da festa que o amor causou
sábado, dezembro 09, 2006
Se não houver o que nós queremos
É verdade, tem de ser, ou nos mesmo sítios ou noutros, como se fora esta a nossa razão de ser: procurar. O quê? A explicação para o sofrimento, ou antes, a explicação para lhe dar sentido ou para o projectarmos como sentido de nós próprios, como horizonte, neste querer dizer que a palavra é um futuro de valores, de explicações, de soluções ou de suspensões. Coloca-se a questão de Deus, pois que se coloque, mas não para colocar na conversa um juízo ou uma fixação deterministíca, mas antes para considerar que a questão de Deus é a nossa questão, resolver com Ele é resolver connosco e entre nós e para nós, é validar para um futuro de nós a mesma necessidade e a mesma explicação. O sofrimento é então uma marca indelével de nós, é-a também de Deus e a explicação para ele terá de sossegar os dois: no homem como marca de temporalidade provisória, em Deus como desejo absoluto de superação. Deixo assim, porque a resposta ao meu poema de Natal, por parte de meu compadre João Alves Dias me fez enveredar por aqui e senti que não tenho fôlego para muito mais. Esta problemática do sofrimento, vista só pelo nosso lado de mortais e finitos, é uma procura desesperada de soluções, é um acumular de investimentos e de esperanças, é um desencadear de queixas e queixumes, mas também de resistências e de superações. Mas vista pelo lado da transcendência espiritual, logo também pelo lado de Deus, esse que seja nosso ou de outros, requer mais esforço de superação dos limites em que pensamos ou em que estamos habituados a pensar, disto não tenho dúvidas. Então, onde estribar esse desejo ou esta necessidade de superação?
domingo, dezembro 03, 2006
Um poema para a Mediação escolar
Refrão:
Eu sou capaz, eu sou capaz,
Digo isto de cor,
Eu sou lindo (a), eu sou bonito(a),
Eu mereço o melhor.
Hoje o dia está
Tão maravilhoso,
Abro os olhos já,
Tudo é espantoso.
Abro a boca e canto
A felicidade.
Mostro o meu encanto
Rio-me à vontade.
Hoje a vida tem
Lições positivas.
Eu procuro bem
Minhas perspectivas.
Preparo o futuro,
Olho para a frente,
Vou-lhe dar no duro,
Estou aqui presente.
Refrão:
Eu sou capaz, eu sou capaz,
Digo isto de cor,
Eu sou lindo (a), eu sou bonito(a),
Eu mereço o melhor.
Todo o ser humano
É uma estrela imensa,
Brilha todo o ano,
Acredita e pensa.
Olho a energia
Que o Sol me dá
Pra vencer um dia
Sei que chego lá.
Eu posso alcançar
Onde os outros vão
Tenho luz no olhar
Paz no coração.
Não deixo que a lua
Se apague em mim,
Sigo, venço a rua,
Vou até ao fim.
Refrão:
Eu sou capaz, eu sou capaz,
Digo isto de cor,
Eu sou lindo (a), eu sou bonito(a),
Eu mereço o melhor.
Levanto a cabeça:
Como é linda a vida!
Pra que eu a mereça
Tem de ser vencida!
Por uma batalha,
Não se perde a guerra,
E só quem trabalha
É que ganha a terra.
Tudo tem solução
Com honestidade,
Trago em minha mão
Ânsias de verdade.
Esta vida assim
Vale mais que o ouro
É o meu jardim,
É o meu tesouro.
Refrão:
Eu sou capaz, eu sou capaz,
Digo isto de cor,
Eu sou lindo (a), eu sou bonito(a),
Eu mereço o melhor.
Poema de Natal 2006
Voltar ao presépio
Já pensei que o Natal pudesse ser
A razão mais ousada e libertária
De um pobre, rebelde, ou guerrilheiro,
À procura desse outro amanhecer:
Em que o povo, de posse igualitária,
Une as mãos e convence o mundo inteiro.
O Natal, estratégia de poder,
Desafio, cruzada visionária,
Testemunha, profeta, timoneiro!
Foi assim. Acabei por me perder.
E o meu sonho, por mão humanitária,
Convalesce, pasmado num pinheiro.
Vou voltar ao Presépio do Menino
E pensar de outro modo o meu destino.
(São os nossos votos de Boas Festas
e de um Ano Novo cheio de sucessos.
José Machado e Albertina Fernandes.
Braga, Natal de 2006)
domingo, novembro 26, 2006
Pós-casamento: o amor no dia seguinte
Poema aos filhos dos outros como se foram meus
A gente se convence
Que os cria,
Que os guia e lhes porfia
Um tempo venturoso de voar.
Mas quase, a gente sabe
E desconfia
Que um dia esta harmonia
Se torna conflito e mal-estar.
Então, resta o amor,
Entregue a si:
O teu, de mim flor,
O meu, raiz de ti.
De todo, há um modo
Singular
De amar e partilhar
As horas mais propícias à razão.
Mas sempre se pressente
O divagar,
Vulgar e lapidar,
Das perdas que nos traz a solidão.
Então, resta o amor,
Entregue a si:
O teu, de mim flor,
O meu, raiz de ti.
Guardo esta saudade
De o teu corpo, em nossa vida,
Ser um verbo meu.
E tenho em minha idade
A do teu rosto, como prova viva
Deste amor ser teu.
domingo, novembro 19, 2006
Deveres de ofício
Terças e Quintas - Desde Outubro, eu e a minha mulher estamos na hidroginástica, na piscina da Casa Sacerdotal, das 18.00 às 19.00 horas, uma actividade em simultâneo que só tem trazido vantagens. Boa ideia!
Terças, à tarde, das 15.00 às 17.00 - Gaita de foles, aprendizagem e treino, como Paulo Pirata Petulante, assim mesmo, galego quase a chegar aos trinta, monge budista na aparência, músico de formação popular e clássica, instrumentista de eleição. Uma oportunidade há muito desejada, vou ver se aproveito bem, sem a pretensão de chegar longe, mas de me ser útil a mim próprio que sempre tive a ideia de tocar umas gaitadas. O grupo de aprendizes pode ainda crescer, mas é motivado e motivador.
Quintas, das 15.00 às 16.00 H - Na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva: histórias para os miúdos, tenho de as contar senão esqueço-as e depois não as poderei inventar no futuro. Já me viciei em precisar de histórias.
Quintas, das 21.00 horas às 23.00, ensaios da Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé» na Escola Francisco Sanches, um grupo a que pertenço desde 1978/79, dedicado à música folclórica minhota, mas também de estudo e de animação. Ando por lá a puxar a carroça, ainda não desanimei e tenho trabalho até mais tarde, mas gostava de ver mais gente nova a entrar, até com o desafio de outros instrumentos e de outros sons que foram fazendo a nossa tradição de músicas e de cantigas e que não deveríamos deixar esquecer. Pena que a pontualidade não seja a regra e que alguns andem a desmoer, mas é de aguentar, ainda dá prazer e a festa é apreciada por outros que gostam de nos ouver.
25 de Outubro - o Duarte, nosso sobrinho, fez 10 anos. Anda também na minha escola, no 5º ano, já tem memórias na caderneta escolar, questões de estilo pessoal e de acomodação ao grupo; é de si próprio um rapaz com graça e com poder de criação. Estou para ver, mas espero bem que seja sempre ele a descobrir-se.
1 de Novembro - No cemitério, a visita aos amigos e familiares que nos enchem a memória de bons momentos e de boas lições de vida. O tempo recompõe-nos, a vida consolida-nos.
14/11/06 - Conselho Consultivo do Theatro Circo: fui convidado a fazer parte, aceitei-me a representar a música de tradição oral, o folclore, a cultura popular, «programas» eventualmente possíveis nesta Casa de espectacular renovação. Numa contemporaneidade que já se preocupa sempre com a sua auto-representação popular, o caminho parece facilitado: por lá deverão passar todas as artes da tradição e todas as tradições de arte, com a qualidade crítica julgada por quem de ofício, que é para isso que recebe, e na sua responsabilidade há-de estar, certamente, o dever de saber ouvir.
19 - feira de campo - Sábado, fomos a Raiz do Monte visitar os pais, eu e a Tininha, assámos lá umas castanhas em forno de lenha, fizemos um arroz de polvo, fomos a Jales visitar amigos e conversar, fomos ver o novo supermercado que abriu nas Alminhas. Minha Mãe está mais pesada e menos, menos, móvel, mas conversa bem; meu pai parece ter voltado a ser quem foi: falador, cáustico de causas e de homens, sobretudo de quem governa, adepto emotivo do FCP, leitor de jornais, preocupado. Na viagem ouvimos o «Ligação Directa» de Sérgo Godinho, com agrado.
Amanhã é outro dia para continuar como hoje e como ontem, semana a semana, nesta teimosia de prestações. A escola ocupa agora mais o tempo, menos bem, mas mais, e o tempo mal ocupado pesa mais nas costas. Soube notícias de nosso afilhado, as coisas parecem estar a correr melhor, a recuperação está a instalar-se.
domingo, outubro 29, 2006
A Luz Viva da Morte: livro e exposição
O livro: A Luz Viva da Morte, de Maria da Conceição Azevedo, com fotografias de Miguel Louro.
Local: Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, Largo Paulo Orósio, Braga.
Dia 31 de Outubro, 21.30 Horas, com a presença dos Professores Doutores Carvalho Guerra e Cassiano Reimão
Tomando a fotografia como linguagem da referência, mas explorando o ludismo da criação e da exposição, Miguel Louro aceitou, e bem, «ilustrar» um livro singular – A Luz Viva da Morte – dedicado à interpretação antropológica dessa realidade última que se inscreve nas nossas vidas, seja como limite, seja como passagem: a morte.
segunda-feira, outubro 23, 2006
Também se escreve e fala e canta para quem já foi
quinta-feira, outubro 19, 2006
Até à Biblioteca LCS
domingo, outubro 15, 2006
Primeiro conto da conta
É verdade, quem quis ouvir, ouviu, ele a dizer que tudo fora feito contra a sua ideia, que não era assim que gostava que as coisas tivessem sido votadas e aprovadas, que se deveria ter ido mais longe e ter desmontado a vontade oficial de burocratizar ainda mais a escola e os seus serviços, mas pronto, ele não estava lá só e os outros tinham aprovado. Os outros, os outros quem? Os outros e as outras que estavam lá só para fazer a vontade não sei a quem, uma porque nem sabia bem o que se estava a discutir, pois fumava e fumava com um pé dentro da sala e outro fora, outros porque estiveram sempre na conversa paralela, outro porque estava de frente para não sei quem e quem estava de frente tinha a saia curta de pernas e assim até nem parecia que a burocracia fosse tanta, outros porque acharam sempre que a ideia de meter os pais nos conselhos de turma era a melhor maneira de eles ficarem a saber como são, na verdade, os seus educandos, mas estes eram só dois, a maioria é que estragou tudo e depois já se estava ali há duas horas e meia e ainda havia a boca do presidente ou da a dizer que nem que se estivesse ali até à meia-noite, ora já se vê, há filhos em casa à espera do jantar, há maridos à espera do comer e à esposas à espera da mesa, portanto o que é que ele havia de fazer. Dito assim até parece que votaste contra, perguntou o mesmo que perguntava sempre quem votava o quê. Que não, votou a favor, então ele é que ia estar ali a desfazer, ainda por cima com gente que estava já de acordo antes de falar. E além do mais, os pais nem virão nunca aos conselhos de turma se as reuniões forem às quatro da tarde, só virão os que já vêm, os pais dos bons alunos e com esses nunca há chatices. Até porque na minha turma nem há pais, são todos filhos de divorciados e divorciadas, primeiro que se entendam sobre quem é que tem de vir! Boa, melhor ainda foi saber por outros que ninguém votara nada, que afinal fora ele que pedira a votação só para despachar a reunião, porque se ele fosse fino calava-se e a reunião ia até às tantas e depois eu queria ver quem é que votava àquelas horas da noite. E a mim até me interessava, disse alguém que nem costumava dizer nada das reuniões, porque eu estava filado noutra coisa e assim aquilo acabou cedo.
sexta-feira, outubro 13, 2006
Atira-te, Zé!
Levanta o dedo e ergue a testa
Não persigas os teus pés,
A palavra manifesta,
Confrontada e descoberta,
Corre o céu de lés a lés.
Põe o dedo no ar
Que o tempo cobre-o
De humidade ou de secura,
E assim tu pode-lo,
Pouco a pouco transformar
Nas tuas fontes de aventura.
Se ao papel não for a pena,
Com que pena vais contar
Que o teu dedo foi em vão!
Mas se o puseres a lavrar
Pelas folhas, cena a cena,
Mudarás teu próprio chão.
O dedo erguido tem
Uma força de bandeira,
Amigo meu,
Só no ar se mostra bem
Como a ave mais ligeira
Quer o céu.
José Machado / Set. 2006
Professor de Português
Presidente da Assembleia de Escola
A saudade de um amigo
Homenagem póstuma da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Braga ao associado nº 114 NUNO PACHECO ÁLVARES PEREIRA
A Direcção da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro apela a todos aqueles que conheceram e privaram com o associado Nuno Pacheco Álvares Pereira a juntarem-se neste acto público de conversa e reflexão sobre o seu perfil, as suas obras e os seus exemplos.
Da homenagem consta o seguinte programa: Sexta-feira, dia 20, às 21.00 H – Conferência pública e Brinde.
Sábado, dia 21, às 12.30 H – Almoço de confraternização, por inscrição.
Sábado, dia 21, às 18.30 H – Missa por alma, em Santo Adrião.
Aqueles que estiverem interessados em testemunhar sobre ele ou em lembrar dimensões da sua esfera de acção poderão fazer uma curta intervenção de 3 minutos, devendo para tal comunicar essa vontade ao Vice-presidente da Casa, o professor José Machado: 969059230 e-mail: costamachado@mail.pt
A Direcção da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Braga
quinta-feira, outubro 12, 2006
As escolas de boas práticas
segunda-feira, setembro 25, 2006
Crato, Nuno (2006). O ”Eduquês” em discurso directo. Uma crítica da pedagogia romântica e construtivista. Gradiva. Lisboa. 5ª Edição.
A leitura do livro de Nuno Crato foi significativa para mim, porquê? Porque coloca interrogações sobre o alcance, em termos de resultados imediatos no ensino, de um conjunto de procedimentos didácticos que decorrem de certas crenças pedagógicas, obrigando-me a rememorar o processo histórico da minha formação e do meu desenvolvimento:
Eu começo a dar aulas depois do 25 de Abril, com o propósito de «demolir» a escola do fascismo, da ditadura, das aprendizagens por memória, dos exames por decoranço, dos silêncios impostos, da falta de criatividade, do livro único e permanente… Com uma formação católica, com uma experiência radical de marxista-leninista-maoista, começo a desconfiar de tudo e de todos e eu próprio me motivo a construir o meu conhecimento e a minha arte de ser professor. Saber o mais possível para ensinar cada vez melhor é o meu lema dentro desta tradição de missionário ilustre, de militante que dá o exemplo, de líder que tem a obrigação de puxar pelas massas. Eu começo com a intenção de dar a palavra aos alunos, de os emancipar, de os libertar, de os ouvir, de lhes fazer testes em que não se sintam apanhados, democratizando as regras da sala de aula, negociando as aulas e os feriados, negociando o manual ou a construção dele, aceitando as justificações de classe e de trabalho e de condições de vida.
Eu faço estágio em 1978/79 e sou confrontado pela orientação do mesmo de que eu é que teria de elaborar o currículo de português e de história, eu é que teria de pôr os alunos a investigar e a construir o conhecimento…e eu acreditei, investi, convenci-me que o caminho era esse… Eu leio e estudo e aplico Freinet, Montessori, Pietralata, devoro Piaget, estudo os radicais de Hamburgo, discuto com outros as experiências mais radicais que andam pelo mundo, leio e releio os teóricos das teologias da libertação, poetizo em força sobre esta crença nos amanhãs que cantam, na perspectiva ideológica de combater fascismos e social-fascismos. Eu adiro à pedagogia por objectivos, eu trabalho tomando como guia a taxonomia de Bloom e as críticas ou ajustes que dela fazem belgas e franceses e americanos.
Eu frequento as formações «vanguardistas da época», em Lisboa, com Albano Estrela, no Porto com Luísa Cortezão, em Braga com Elias Blanco, no Porto com ICAV de Bordéus, e toda a formação vai no sentido de dar voz aos alunos, de acreditar no poder da motivação, de os entusiasmar pelas suas potencialidades. Em termos de ensino do português eu frequento acções de formação com os principais estudiosos da literatura e da gramática, Vítor aguiar e Silva, Carlos Reis, Pinto Correia, Inês Duarte, Mira Mateus.
Eu orientei todos os tipos de estágio de formação de professores, o estágio clássico, a profissionalização em exercício, os estágios integrados. Eu fui «companheiro de estrada» de autores de manuais escolares, como Álvaro Gomes, Emília Traça, Maria José Costa. Nos estágios integrados, como o da Universidade do Minho, eu tenho pela primeira vez a experiência do desencanto e da desilusão, mas invisto e procuro colmatar as deficiências que descubro. Candidatei-me sempre à formação e à inovação e se mais longe não fui é porque me cortaram as asas.
Eu usei todos os recursos disponíveis: teatro, música, vídeo, filme, passeios, visitas de estudo, desportos, computadores.
Eu frequento um mestrado de Literatura e Cultura Portuguesa e interiorizo as perspectivas antropológicas que olham sempre o professor como o «lacaio» do poder e procuram distinguir nos «outros» o outro que é excluído, que é rural, que é periférico, que é «incorrigível», que resiste Bourdieu? Foucault? Li, reli e citei.
Eu nunca abdiquei dos três testes por período, mas também não defendi os exames na praça pública. É um facto que eu e a minha geração nos embrenhámos na poética do «aprender a aprender».
Eu entro em crise profunda, irritante e descontrolável, quando surge a política da «paixão pela educação» - abandono a sala do Hotel da Póvoa quando ouço a senhora Benavente dizer que os seus filhos frequentam uma escola particular - desatino com o currículo por competências, com as áreas não disciplinares, com os planos curriculares de turma, com os planos de recuperação e de acompanhamento. Conheço o «eduquês» por dentro.
Fiz tudo para dar a palavra aos alunos e hoje vejo-me grego para os mandar calar. Dou-lhes a ler todo o tipo de textos e eles não se interessam por nenhum.Ensaio com eles peças de teatro mas os ensaios quase não passam da fase da bagunça se eu não meter as mãos na «lama».Ensino toda a gramática e eles dizem sempre ao professor seguinte que nunca deram gramática. Corrijo todos os erros, mando passar a limpo e eles voltam a praticá-los. Levo os alunos para os computadores e nem tenho tempo de lhes dar qualquer orientação, já estão onde nunca querem demorar se não forem jogos. Se tenho tido bons resultados? Não me queixo e algumas memórias dos alunos reconfortam-me.
Hoje a minha interrogação é esta: como posso resolver os problemas que me surgem de modo a ensinar bem e muito e mantendo a minha liberdade pedagógica? O livro de Nuno Crato dá-me uma resposta: ir à luta do debate, aparecer na praça pública para discutir, para levar as perguntas até ao fim.
quinta-feira, setembro 21, 2006
A rotina e a retina escolares
segunda-feira, setembro 18, 2006
Feiras Novas - a festa cheia
sábado, setembro 16, 2006
Um casamento mais
Foi assim
do princípio ao fim:
os noivos já de si eram vistosos
e mais ficaram com os trajes rigorosos:
ele, de fato nobre, militar,
e ela, de noiva, cinza a iluminar.
Um amor intenso, ao que me disse o pai,
contando aquela história do bonsai
que já de pequenino
induz o seu destino.
Na igreja de Cardielos
deu gosto vê-los,
por entre guarda de honra espevitada,
cumprir a tradição sagrada
de prometer eterna comunhão
de planos, de filhos e de pão.
O padre esteve bem no seu papel
de lembrar o doce e o fel
que a vida a dois constrói no seu tear,
ora com pressa, ora devagar.
A voz e o violão fizeram contraponto
e o casamento transformou-se em conto
mais uma vez de fadas,
com o príncipe e a princesa,
e as outras personagens convidadas,
a saberem que o amor se faz à mesa,
depois das escrituras celebradas.
sábado, setembro 09, 2006
Contas da vida
Ai vida, vida,
Que tão bem sabe,
Mas não nos cabe
Toda na mão!
Ai vida, vida,
Que mais nos custa
Quando se assusta
O coração!
sexta-feira, setembro 08, 2006
As festas limam as arestas
No pretérito dia 2 de Agosto, a Junta de Freguesia de Maximinos organizou um convívio no monte de S. Gregório aberto à sua população e a todos os bracarenses e forasteiros que aparecessem. Da ementa constava um serviço de bar generoso e um cartaz de animação com folclore e música ligeira. A capela estava aberta. O objectivo deste convívio consumava-se na ideia de devolver o monte de S. Gregório à população como espaço de lazer e de convívio, como lugar privilegiado de vistas sobre a urbe bracarense e arredores, como recanto de passeio, reflexão e sossego. Naturalmente que o lugar para ser este objectivo ainda precisa de mais obras de encantamento, mas falar assim pode querer dizer que os responsáveis da Junta de Freguesia, especialmente o seu presidente, o comerciante João Seco Magalhães, demonstraram a consciência da perda e do abandono a que este lugar fora votado durante anos, tomado como acampamento espúrio e invadido por negócios marginais.
A ocasião para a festa foi a véspera da data que, no calendário religioso, assinala a consagração de S. Gergório como Papa, 3 de Setembro. A festa tornou-se então uma ocasião excelente para a Junta e o seu presidente darem a verificar o trabalho de recuperação deste lugar cimeiro, que tem S. Gregório Magno como santo residente, oráculo dos aflitos do coração.
Bem poderia este santo, que foi papa da Igreja entre 590 e 604, num tempo de invasões bárbaras na Europa, ser o inspirador de autarcas, ele que fora prefeito da cidade de Roma antes de se tornar monge e merecer a escolha como papa. E bem poderia este monte de S. Gregório tomar-se como lugar de sentinela sobre a cidade e sobre o mundo, desde que a palavra sentinela tivesse o sentido que lhe deu S. Gregório: «Deve notar-se que o Senhor chama sentinela àquele que envia a pregar. De facto, a sentinela está sempre num lugar alto, a fim de perscrutar tudo o que possa vir ao longe. Todo aquele que é colocado como sentinela do povo, deve, portanto, pela sua vida, situar-se bem alto, para ser útil com a sua previdência.» (Das Homilias de São Gregório Magno, papa, sobre o profeta Ezequiel) Que outras palavras poderiam inspirar mais os autarcas do nosso tempo?
Com esta iniciativa da recuperação do monte de S. Gregório, o Presidente da Junta de Freguesia de Maximinos, João Seco Magalhães, essa pessoa incontornável da história da cidade, o tal que fez a campanha autárquica distribuindo chouriças pela sua população votante, quis provar, e provou, que o preço do fumeiro está muito aquém do preço justo que mereceu e merece a recuperação deste lugar da freguesia, agora cercado por um muro encimado com o gradeamento antigo da estação dos caminhos de ferrro, agora dotado de casas de banho, em breve melhorado no seu ordenamento e ajardinamento, finalmente assumido como ponto de encontro da cidade. Diz-se, nas histórias populares, que quem dá uma chouriça quer receber um porco, mas neste caso a história parece inverter-se e depois da chouriça, o presidente da Junta está na disposição de dar um porco e, quem sabe, a vara toda, tal é a sua predisposição ao trabalho e tal é o entusiasmo da sua equipa. Oxalá S. Gregório não falte a esta gente assim decidida com a protecção devida aos achaques de coração e às vertigens das alturas.
O programa de animação musical contou com o grupo de música popular da UMATI, com três grupos folclóricos, o de Gondizalves, o dos professores e o de Martim, e com um conjunto, os Vaticanos.
O dia esteve luminoso, a tarde esquentou, o que deu maior relevância ainda às árvores do monte de S. Gregório, aquelas oliveiras e outras que terão testemunhado alguns vandalismos, mas que resistiram às alucinações. O grupo de música popular da UMATI abriu as sonoridades com estilo, compostura e agradável alinhamento de instrumentos, ritmos e vozes. As camisas brancas, as calças ou saias pretas, os cabelos delas requintadamente compostos, acrescentaram ao gosto de aprender e de tocar uma dimensão educativa, exemplar para todas as idades. As árvores morrem de pé e testemunham bem as vicissitudes da história.
O grupo Folclórico de Gondizalves, uma história de família alargada, com ligações ainda muito fortes aos trabalhos agrícolas, continuou a festa com o sentimento de ainda ser cedo para o público dançante e de já ser tarde para a simpatia do lugar, mas teve de ser e as danças e cantares tiveram o condão de atrair mais gente.
Seguiu-se o Grupo dos Professores de Braga, que agora se nomeia Associação Cultural e Festiva «Os sinos da Sé», em estilo de convívio com a população presente e em atrevimento verbal com o presidente da Junta de Freguesia, com S. Gregório e com o mundo, como é próprio do seu apresentador. Este grupo trouxe ao lugar as histórias do Né, o professor Manuel Tavares Lopes Prata, que em tempos de rapaz indomável tomou o monte de S. Gregório como seu castelo de fantasia, a ele chegando e dele partindo com aventuras de brincadeiras, corridas, banhos e merendas, fossem estas à base da fruta das quintas ou das sardinhas de uma mulher distraída, da broa do padeiro ou das chouriças do merceeiro, que a rapaziada da sua idade, isto há quase sessenta anos, tinha mesa de pedra privativa no monte de S. Gregório para planificação e distribuição. E lembrou-se a festa que então se fazia no monte de S. Gregório em que a canalha se pelava por beber um pirolito ou limonada. O resto foi cantar e dançar e anunciar o arroz de feijão malandrinho que saiu e a missa do dia seguinte.
Depois entrou a cantar e a dançar o Grupo de Martim, com cantador aprimorado e de improviso espevitado. Se até ali, e já eram sete e meia da tarde, o Bar já estava em bolandas, então passou a ganhar velocidade de cruzeiro e foi um vê-se-te-avias, sempre com a presença no prato da simbólica chouriça, entre arroz, febras e barriguinha de churrasco, broa, caldo verde, vinho ou cerveja ou água e café.
Finalmente o baile mais informal, ao som dos Vaticanos, apenas um, que chegou, tal a quantidade de «chips» enlatados que trabalhavam para ele cantar, e cantou, de tudo, até o hino ao Braga que compôs para animar as hostes arsenalistas da cidade em todas as marés. Foi então que se desejou que o futuro terreiro de S. Gregório tomasse em consideração o gosto pela dança em espaço corrido e amplo, fresco e de bom pisar. Só não dançou, nem comeu, nem bebeu, quem não quis ou não pôde abusar dos avisos de S. Gregório sobre os limites do coração, mas que a festa valeu, valeu.
Muito provavelmente, a esta hora, o presidente da Junta de Freguesia de Maximinos terá caído bem na conta das obrigações a que ficou sujeito com tão simples quanto simbólica distribuição de uma chouriça na campanha eleitoral.
Tomando a sabedoria de S. Gregório Magno - «É natural que no exercício do magistério a língua se confunda quando ensina uma coisa que não aprendeu» - o leitor fica já avisado que esta descrição da festa pode pecar por defeito e precisar de outros testemunhos que acrescentem, corrijam ou redobrem os tempêros.
segunda-feira, setembro 04, 2006
S. Lourenço da Armada
quarta-feira, julho 19, 2006
Ano lectivo 2005-2006: avaliação
2. A escola é um espaço receptivo a decisivos jogos ou peladinhas de futebol, com embalagens vazias de iogurte a fazer de bola, ou latas de sumos, ou embalagens de não sei quê. Normalmente o número de jogadores é limitado, mas as regras existem e cumprem-se: marcam-se livres e penaltes, as fintas sucedem-se, os golos festejam-se ruidosamente.
3. A entrada principal da escola tem sempre muros abertos à escrita de todas as intenções; os seus muros interiores também, ainda que nem sempre de acordo com as regras da ortografia, mas sempre de acordo com as regras da frustração. Nos placares ou no quadro, mas também ali, junto à fita do estore, à margem da carteira, no fundo da sala, longe do quadro, a parede e a pedra mármore do parapeito da janela ficam receptivas à escrita. Frequentar a escola quer dizer usá-la com frequência? E usar a escola quer dizer transformá-la em caderno de apontamentos?
4. A CMB repavimentou o passeio exterior de acesso aos portões da nossa escola. Mas uma obra necessária era também a marcação dos lugares de estacionamento e a melhoria da estrada de saída para o mundo.
5. Existe o mundo subterrâneo das carteiras escolares, basta olhar para debaixo dos tampos. As inscrição poderão sempre ler-se em vários sentidos, conforme as marcas, mas algumas sugerem-nos intenções possíveis: Eu escrevi nesta carteira para experimentar o corrector, Eu comecei mas outros continuaram, Eu não consegui fazer o que queria, Foi a melhor maneira que tive para passar o tempo de aula, Consegui fazer sem ser incomodado, Para a próxima termino o texto. Os correctores são uma invenção do nosso tempo. As chiclas moram nas costas das carteiras, em lugares opostos aos dos livros, mas em lugares que os dedos aproveitam sempre muito bem. E se as chiclas não colassem? Já agora, deve-se dizer chicla ou chiquelete ou chiclete? Se não se diz biciquelete, mas bicicleta, deveria ficar chicleta?
6. A Escola em dias de nevoeiro não é a mesma coisa que o nevoeiro nos dias da escola, pois não? Mas que há um sossego próprio dos espaços escolares, lá isso é verdade. Valha a verdade, a escola sossegada é um desejo absoluto, mas não tem interesse, nem para o nevoeiro. O barulho solar ou a confusão dos dias de inverneira dão-lhe outro fastio, outra vontade de comer.
7. A escola dá fome, na escola come-se muito e mal e estraga-se a comida como sinal de afirmação das indecisões do crescimento. Quando os alunos atiram com pão uns aos outros, na cantina, mexem abusivamente nos símbolos e desafiam o sentido do mundo. A educação não cresce por instinto, de facto.
8. Na sala de professores passa-se o tempo, gasta-se o tempo, nunca se ganha tempo.
O Tomás
domingo, julho 09, 2006
Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro em Braga
quarta-feira, julho 05, 2006
quarta-feira, junho 28, 2006
A poética de um casamento
Resolvi apresentar a todos os leitores os textos poéticos que produzi para o Casamento de Eliana Sofia Almeida Soares e João Miguel Magalhães Alves Dias, o qual se realizará no dia1 De Julho de 2006, às 15.00 horas, no Mosteiro da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia.
Sendo amigo do noivo desde que ele nasceu e sendo eu e minha mulher padrinhos do seu irmão, que neste momento se encontra hospitalizado em Bolonha, como sinal dos nossos desejos de felicidade para os noivos e de uma boa e consolidada recuperação para o nosso afilhado, deixo-lhes aos ventos da internet estas produções. Os textos assinalados com um asterisco têm música de minha autoria; os textos assinalados com dois asteriscos são para a recitação pelos noivos e o texto com três asteriscos é uma criação poética para a música de António Variações »Deolinda de Jesus».
Cântico de Entrada *
Cantemos ao Senhor
Porque fez brilhar a sua glória,
Cantemos ao Senhor
Porque Ele é o centro da História!
Ele é o meu louvor e a minha Lei,
Ele é o meu Deus e o de meus Pais,
Eu O exaltarei!
O Senhor é misericordioso,
Perdoa as nossas faltas, é clemente,
Dirige os nossos passos e conduz-nos
Com Sua mão prudente.
O Senhor é nosso Timoneiro,
Faz-nos o apelo à união,
Quer o nosso fruto por inteiro:
A nossa geração!
Salmo Responsorial *
Cantarei para sempre a bondade do Senhor
O Senhor é bom e clemente,
Lança sobre toda a humanidade
Seu olhar de Pai, sua bondade,
Ele é compassivo e paciente.
O Senhor é justo em seus caminhos
É perfeito em toda a criação,
Quantos O invocam, provarão:
Perto do Senhor, não estão sozinhos.
O Senhor é digno de louvor,
Ele é quem garante o alimento,
Alivia a dor e o sofrimento
A quem O procura com amor.
Aclamação ao Evangelho *
Aleluia, Aleluia, Aleluia
Benditos sejam aqueles / Que permanecem no amor,
Pois permanecem em Deus / E Deus permanece neles.
Aleluia, Aleluia, Aleluia
Cântico do matrimónio *
Testemunhas do Deus que é Amor
Abriremos nosso coração:
Nossa casa há-de ser o mundo,
Todo o mundo vai ser nosso irmão.
Caminharemos felizes
Por carreiros floridos,
Consolidando raízes
Na partilha dos perigos.
Nossas manhãs de esperança,
Terão razões de alegria:
O Amor é nossa aliança
E Deus é o nosso guia.
Construiremos a vida
Buscando a Felicidade.
Com trabalho e ousadia,
Com paz e fraternidade.
Este amor que nos abriga
Há-de crescer sempre mais,
Como essa ternura amiga
Que é a saudade dos pais.
Oração Universal **
Dai-nos, Senhor, o sonho e o sentido
Para sermos capazes de enfrentar
Os apelos de um tempo desmedido
Sem nos precipitarmos a julgar,
Ouvi-nos, Senhor.
Senhor, olhai a nossa ansiedade,
Tomai este fervor de juventude,
E dai-lhe a proporção da claridade,
E dai-lhe o sacrifício da virtude,
Ouvi-nos, Senhor.
Pegai, Senhor, agora em nossos braços,
Que guardem o sabor do vosso pão,
Pegai, Senhor, agora em nossos passos,
Que ganhem os valores da gratidão,
Ouvi-nos, Senhor.
Segui os nossos olhos e ouvidos,
Temperai-os, Senhor, na caridade,
Que não fiquem alheios nem contidos
Aos dramas e às dores da humanidade,
Ouvi-nos, Senhor.
Ouvi nossas palavras apressadas,
Ligai-as ao diálogo do mundo,
Que sejam pelas Vossas reguladas,
E busquem um sentido mais profundo,
Ouvi-nos, Senhor.
Nós somos dois que se amam na certeza
De um turbilhão futuro de porquês,
Vós, Senhor, vigiai nossa fraqueza
E dai-lhe a humildade e a lucidez.
Ouvi-nos, Senhor.
Rito da Paz **
Ela:
Nós os dois que nos amamos,
Por obra e graça de Deus,
Hoje, aqui vos abraçamos,
Erguendo as mãos aos Céus,
Num gesto de concórdia fraternal.
Que nossos olhos despertem,
E nossas mãos se concertem
Num desejo de paz universal,
Com Vossa Palavra, Senhor,
Raiz e bússola de Amor.
Ele:
Nós os dois que vos juntamos,
Por obra e graça de Deus,
Hoje, aqui, nos abraçamos,
Erguendo as mãos aos Céus,
Num acto de afecto e comunhão.
Se esta união nos apraz,
Seja o caminho da paz
Nossa firme e concreta obrigação,
Com Vossa Palavra, Senhor,
Raiz e bússola de Amor.
Comunhão *
Senhor, és nosso alimento,
És nosso sustento,
És o nosso pão.
Teu corpo, é fonte de vida,
É palavra viva
Da nossa Razão.
Queremos dar-Te graças
Pelo amor que aconteceu
Somos dois em Ti
Tu em nós és nosso Eu;
Queremos dar-Te graças
Pelo próximo desejo
Que já vive em Ti
A flor do nosso beijo.
Queremos dar-Te graças
Pelos pais que nos criaram,
Por nosso avós
Que também nos educaram;
Queremos dar-Te graças
Por nossos irmãos queridos,
Pelos sentimentos
Que nos tornam mais unidos.
Queremos dar-Te graças
Pelos anos que passaram
E pelos amigos
Que este amor testemunharam;
Queremos dar-Te graças
Pelo emprego que aceitamos,
Pelas relações
De trabalho onde estamos.
Queremos dar-Te graças
Por viagens e canseiras,
Pelas coisas sérias
E por nossas brincadeiras;
Queremos dar-Te graças
Pelos vários problemas
Que no dia-a-dia
Se transformam em dilemas.
Queremos dar-Te graças
Pelos povos que cruzamos
E pelos espaços
Que aos pouquinhos melhoramos;
Queremos dar-Te graças,
Pela nossa terra-mãe
E pela saudade
Dos sabores que ela retém.
Queremos dar-Te graças
Pela nossa segurança
E pela saúde
Que nos pede a esperança;
Queremos dar-Te graças
Pela fé que nos sustém
E pela Igreja
Onde nos sentimos bem.
Cântico à Mãe ***
Ó Virgem Mãe,
Tu és a mais bonita
Em graça e em valor
Tu és Aquela
Que foste a escolhida
E nos envolve sempre em amor.
Ó Santa Mãe,
Tu és nosso carinho,
O conto e a canção,
Que nos embala
E nos enche o caminho
De sonhos e de paixão.
Querida Mãe de todos nós,
Fonte de toda a ternura,
Cristalina e doce Voz,
Espelho de formosura.
Nosso colo procurado,
Conselho experimentado,
A bondade viva e pura.
Deixa-nos sentir crianças,
Dá-nos força e esperanças,
Traz-nos à Tua procura.
Pedra de toque
Ainda sem saber de onde é e como chegou até mim, sei que a pedra tem um toque especial e por certo será preciosa, que já o foi neste tempo de a tomar em conta. Nada sei dele e ele pode ser figurado por esta ideia de pedra preciosa achada na margem do rio, rio que pode ser este tempo com suas duas margens, a da esquerda sendo a escola e a da direita sendo Braga. A princípio não dei por ele mais que dei pelos outros que não conhecia, que todos os anos ou ano após ano chegam à escola. Podemos estar juntos e não nos conhecermos, anormalidade que se justifica numa escola, embora sempre com argumentos da máxima fragilidade. Um aluno, meu educando de afecto e de encargo voluntário, aproximou-nos. Mais não sei, a não ser que é professor de Ciências no 3º Ciclo. Sei que é dedicado às viagens pela Net e sei que foi dele a iniciativa de eu construir e produzir este blogue. Pouco falamos e pouco saberemos de facto um do outro, mas o que nos resta é um futuro de conhecimento progressivo. O leitor poderá vislumbrar nesta escrita uma presciência de atracção mútua entre dois seres da mesma espécie, mas já lhe adianto que deverá acrescentar à intuição a ideia comezinha do florescimento de uma amizade e de uma admiração. Sei agora que vai para o Funchal dar aulas nos próximos três anos. Sei também o nome, António Gomes e hei-de colocar aqui a sua fotografia. Há pessoas, e o António é uma delas, a quem agradeço a casualidade do fulgor: este ano valeu por este encontro, numa escola onde o desgaste está a ser ruidosamente instalado e cultivado. Ouvirei as músicas que me arranjou com redobrado prazer e irei, na memória dos dias passados, lapidando as faces desta pedra preciosa, esperando nunca desmerecer. E que mais sei dele? Que é casado, que a esposa é bancária, como a minha. Se tem filhos? Se é de esquerda? Se... Tenho-o por «amigo titular».
domingo, junho 18, 2006
Fotos da Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé»
Grupo Folclórico de Professores de Braga, hoje Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé» na intervenção coral na Procissão de São João, em Braga, em 2002. Fotos tiradas por meu irmão António Machado. Esta associação tem mantido uma actividade regular em escolas, congressos, convívios, reuniões, festas e, de vez em quando, num ou noutro festival de folclore. Interpreta a música e a dança que configuram manifestações tradicionais das populações desta região minhota que tem Braga por capital, o Baixo-Minho. Procura uma «retoma» dessas manifestações, mas associada a uma crescente qualificação estética, não só em termos musicais e coreográficos, mas também em termos de uso de vestuário típico ou tipificado como etnograficamente representativo de costumes.
Presença da Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé»
Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé» apresenta novo cântico a S. João na procissão do dia 24 de Junho.
Desde o princípio do ano que o Grupo Folclórico de Professores de Braga se transformou na Associação Cultural e Festiva «Os sinos da Sé», tendo, para isso, alterado os seus estatutos de modo a poder receber todas pessoas de boa vontade interessadas na prática e na criação de manifestações culturais de cariz popular, a vários níveis de intervenção, sendo um deles a presença regular na procissão de S. João de Braga, com a apresentação de cantares específicos de carácter religioso, produzidos expressamente por compositores contemporâneos. É o que vai acontecer este ano, em que o grupo, para além de retomar uma criação coral do professor Costa Gomes, com letra de José Machado, vai interpretar um hino a S. João da autoria poética de Castro Gil e da autoria musical de Joaquim Santos. Eis a letra:
Com fé, gratidão e amor:
No mundo em que caminhamos,
Convosco, o Senhor louvamos
De quem fostes Precursor.
Nobre mártir da verdade
Sem receio defendida:
Braga, que é Vossa cidade,
Quer a verdade na vida.
Pelas margens do Jordão
Destes a ver o Messias:
Dai-nos a mesma atenção
Na vida, todos os dias!
Se há ainda Herodes agora
A calar a Vossa voz,
Dessa coragem de outrora
É que precisamos nós.
Pequena é Vossa Capela,
Mas a devoção a afaga;
E faz, ao contrário dela,
A maior festa de Braga.
Por isso Braga e S. João
São bons parceiros leais.
E o que uniu a tradição
Ninguém o separe mais!
O pedido expresso desta composição poética ao professor Doutor Amadeu Torres, que assina as obras literárias sob o pseudónimo de Castro Gil, revestiu-se de toda a intencionalidade festiva e cultural, porquanto se trata de um poeta de fino estilo clássico, de profunda erudição e de genuína sabedoria popular. O poeta Castro Gil, entre os dias 15 e 18 de Maio deste ano de 2006, deu-nos, de facto, uma saborosa poesia de cariz popular tradicional, mantendo nela toda a presença da sua erudição bíblica e evangélica, num estilo de linguagem onde se faz presente uma construção frásica de recorte classizante, de inspiração barroca no que se refere à mistura de referências e ao cruzamento de sentidos. O refrão ou estribilho, na forma de uma quintilha, consagra as intenções da saudação e do louvor, unindo os três elementos básicos da relação religiosa – o Senhor Jesus, o profeta João e o povo –, numa hierarquia de súplica necessária às vivências no mundo contemporâneo. Depois, em cinco quadras, o poeta Castro Gil misturou sabiamente três dimensões da mensagem que a festa Bracarense ao S. João conserva e recria todos os anos: a história bíblica do Baptista, na sua condição de Precursor do Messias e de vítima da ferocidade de Herodes, a referência aos lugares da festa, a capela de S. João na Ponte e a cidade de Braga, e a lição evangélica do acto religioso, a qual se estriba na defesa dos valores como a verdade, a atenção, a coragem, a devoção e a união, absolutamente necessários hoje em dia para a vivência da fé cristã.
Deste modo, a Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé», respondendo ao apelo da Comissão de Festas de S. João, apela à presença atenta dos romeiros ao longo da Procissão e à sua presença no ritual litúrgico de encerramento da mesma na Sé de Braga, onde os cânticos a S. João voltam a ser interpretados.